Ferro, aço e óleo serão destaques, de novo, no trimestre

Ferro, aço e óleo serão destaques, de novo, no trimestre

A temporada de balanços do terceiro trimestre ganha fôlego nesta semana e a expectativa dos analistas é de números positivos, com a base de comparação ainda fraca do ano passado colaborando para mais um trimestre de ganhos acima da média. Entretanto, há preocupação com a deterioração do cenário político e macroeconômico.

O terceiro trimestre de 2020 ainda teve reflexos do período imediatamente anterior, do choque inicial da covid-19, o que deve criar um contexto favorável para os avanços dos indicadores. “O segundo trimestre do ano passado foi o pior por causa do impacto da pandemia, mas ainda houve um resquício no período seguinte que favorece a comparação”, diz Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP.

Empresas que lidam com commodities devem ser, de novo, os destaques da temporada: o preço do petróleo bateu recordes e o minério de ferro, apesar da desvalorização nos últimos meses, ainda está em patamares acima das médias históricas.

“As mineradoras terão um impacto nos preços realizados, a siderurgia terá os preços muito altos do aço e o petróleo está nessa valorização robusta”, diz Ferreira. A deterioração do cenário das commodities no mundo mostrará terá efeitos mais considerável neste quarto trimestre.

A percepção é a mesma do BTG Pactual, que vê as empresas do setor de petróleo e gás sob sua cobertura com receitas líquidas de R$ 205 bilhões e lucro líquido de R$ 18,1 bilhões entre julho e setembro. No setor de mineração e siderurgia, o banco projeta que a receita líquida deve somar R$ 61,4 bilhões e o lucro líquido será de R$ 13,5 bilhões.

A chefe da área de análise do Banco Inter, Gabriela Joubert, acrescenta que a demanda por commodities continua forte no Brasil, mesmo com a crise dos semicondutores freando a produção de veículos de passeio.

“Os índices de atividade continuam muito bons, as montadoras acabam não produzindo veículos leves devido ao menor custo-benefício, mas continuam na produção de caminhões e maquinas agrícolas”, diz.

Outro segmento que pode apresentar surpresas é o de varejo discricionário. A chefe de análise do Inter observa que a retomada das atividades presenciais deve levar a uma maior demanda no varejo de moda, enquanto a venda de itens duráveis registrada no ano passado deve desacelerar.

Esse também é o entendimento de Pedro Serra, gerente de pesquisa da Ativa Investimentos. “Estamos vendo o retorno das pessoas às ruas com o avançar da vacinação e isso deve se traduzir em bons números, mesmo com o impacto da inflação, porque elas vieram de uma base de comparação fraca”, diz.

A Warren ressalva que o pós-pandemia ainda é incerto para o varejo, e consequentemente para o setor de shoppings. Atualmente, a corretora não recomenda a compra de nenhum papel do setor em sua carteira.

Grandes empresas estão diminuindo a competição por espaços em shoppings, enquanto a alta de movimento nas unidades não reflete necessariamente uma retomada do consumo, diz Frederico Nobre, analista da Warren. O custo dos aluguéis e a perda de renda de parte da população tem afastado parte das varejistas dos shoppings.

O empobrecimento da população também é destacado por André Mazini, analista dos setor imobiliário do Citi. Ele acredita que redes voltadas aos públicos de renda mais alta devem mostrar vantagem no trimestre, como é o caso da Multiplan e do Iguatemi.

O analista do Citi também lembra que a inflação tem reduzido a capacidade e o padrão de consumo dos mais pobres. Enquanto na crise econômica de 2016 a inflação foi alavancada pelo setor de serviços, o cenário atual é marcado por uma alta de preços de produtos como alimentação, que tradicionalmente consomem a maior parte do orçamento das famílias de menor renda.

Há que se considerar também que os números do trimestre já perderam parte da relevância diante das turbulências recentes no cenário macroeconômico. “A não ser que a empresa apresente um resultado muito diferente do esperado, o mercado vai continuar prestando mais atenção na questão macroeconômica e política do que no corporativo”, diz Bruce Barbosa, sócio-fundador da Nord Research.

Mais do que os resultados, as declarações dos executivos podem ter impacto no movimento das ações nesta próxima semana. “As teleconferências serão muito importantes para escutar o que elas vão dizer, porque ainda está muito incerto e você abre espaço tanto para surpreender quanto pra decepcionar, dependendo da visão delas”, diz Serra, da Ativa.

Depois de um trimestre com forte influência do receio de um racionamento de energia elétrica, Serra afirma que as geradoras de energia, principalmente as que operam ativos hídricos, devem apresentar resultados ruins nas próximas semanas.

A piora nos indicadores, porém, não deve afetar na mesma proporção os segmentos de transmissão e distribuição, diz Ferreira, da XP. Enquanto nas distribuidoras há um registro de melhora de preços e de demanda com a reabertura da economia, nas transmissoras, como os contratos são reajustados em taxas fixadas anualmente, não se sente efeitos de racionamento ou variação dos volumes.


Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 26/10/2021