Entenda o excesso de exportação de aço na China

Entenda o excesso de exportação de aço na China

A China tem aumentado suas exportações de aço para níveis que estão perturbando os mercados internacionais, com governos de países ricos e emergentes abrindo investigações antidumping ou já aplicando contramedidas para barrar a inundação de produtos siderúrgicos chineses.

As exportações chinesas de aço cresceram 33% em 2023. Nos 12 meses até fevereiro, a China exportou 95 milhões de toneladas de aço, segundo dados da Alfândega chinesa -- para se ter uma ideia do tamanho dessa escala esse volume exportado pelas siderúrgicas chinesas supera as estimativas do consumo total de aço pelos Estados Unidos em todo o ano de 2022.

Esse crescimento das exportações de bens da China surge como resultado da persistente crise imobiliária e de uma queda dos gastos do consumidor que impactam a economia do país. Nesse cenário, o governo chinês vem canalizando seus investimentos nas fábricas para tentar acelerar o crescimento econômico.

Desde 2019, a China tem produzido cerca de 1 bilhão de toneladas de aço todos os anos, de acordo com a “Bloomberg”.

O problema decorre da queda na demanda interna da China por aço, devido principalmente ao arrefecimento do mercado imobiliário, obrigando os grandes produtores do país a despejarem seus produtos a preços abaixo do custo no mercado internacional.

“Novo choque chinês”

O aumento recente das exportações chinesas de aço é um exemplo potente da crescente preocupação com a perspectiva de um “novo choque chinês” no comércio mundial, assim como aconteceu no começo dos anos 2000.

Estima-se que o aumento das exportações chinesas na época tenha custado cerca de dois milhões de empregos na indústria manufatureira nos EUA.

No entanto, em contraste com o começo dos anos 2000, quando a China fabricava principalmente produtos de menor valor agregado, hoje o país compete com indústrias de outros países emergentes e economias avançados em uma ampla variedade de produtos, como aço, têxteis, cerâmicos, semicondutores, veículos elétricos e outros equipamentos de alta tecnologia.

Em uma viagem recente à China, a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, alertou que a China é agora simplesmente grande demais para o resto do mundo absorver sua crescente produção industrial, que segundo autoridades americanas é apoiada por subsídios generosos e empréstimos orientados pelo Estado.

“Quando o mercado global é inundado por produtos chineses artificialmente baratos, a viabilidade das empresas americanas e de outras empresas estrangeira é colocada em dúvida”, disse Yellen,

Reações globais

Nesse cenário, o aumento das exportações chinesas estão piorando as tensões comerciais em todo o mundo, principalmente em relação aos Estados Unidos.

Na semana passada, o presidente Biden pediu a triplicação de uma tarifa importante sobre o aço chinês para 25%, um imposto que se soma a uma segunda tarifa de 25% aplicada ao aço chinês pelo ex-presidente Donald Trump em 2018, por razões de segurança nacional.

Dados do governo chinês mostram que as exportações de aço para os EUA diminuíram desde que as tarifas do governo Trump entraram em vigor. A China exportou 1,2 milhão de toneladas de aço para os EUA em 2018. Em 2023, elas caíram para 815 mil toneladas.

Dessa forma, o aço chinês barato está sendo despejado em outras regiões, pressionando os produtos em países como Brasil, Vietnã, Índia, Reino Unido, Filipinas e Turquia.

Na América Latina, as exportações de aço para o Brasil aumentaram 29%no primeiro trimestre em relação ao ano anterior, e os embarques para Colômbia e Chile subiram 46% e 32%, respectivamente, segundo a Kallanish Commodities. Todos os três países lançaram ou estão preparando medidas comerciais para lidar com o aumento.

No início desta semana, o Chile anunciou a imposição de tarifas antidumping temporárias sobre os produtos siderúrgicos chineses utilizados pelo setor de mineração do país, numa tentativa de apoiar a indústria local. As esferas de aço chinesas e as barras utilizadas na sua fabricação estarão sujeitas a tarifas de 33,5% e 24,9%, respectivamente, nos próximos seis meses.

Além disso, as exportações de aço para a Índia nos 12 meses até fevereiro foram 84% maiores do que no ano anterior, somando cerca de 3 milhões de toneladas. As exportações para o Vietnã cresceram 78%para quase 10 milhões de toneladas.

As exportações chinesas de aço para o Egito aumentaram 95% no primeiro trimestre, enquanto as para os Emirados Árabes Unidos aumentaram 81%.

Os maiores destinos do aço chinês hoje são, pela ordem, Vietnã, Coreia do Sul e Emirados Árabes Unidos.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 25/04/2024