Economia deve seguir na direção correta, diz IFC

Economia deve seguir na direção correta, diz IFC

A IFC, braço de investimentos privados do grupo Banco Mundial, só empresta para bancos ou faz aportes ao lado de investidores institucionais, então está sempre muito a par de como anda o sentimento dos estrangeiros em relação a um determinado país. E, no caso do Brasil, a percepção é a de que, independentemente de quem vença as eleições presidenciais, a economia deve continuar caminhando na direção correta. Ainda assim, a entidade diz que o país poderia fazer muito mais na questão ambiental, se tornando um verdadeiro líder na agenda climática.

Alfonso García Mora assumiu em julho como vice-presidente da IFC para América Latina, Caribe e Europa e esteve na semana passada no Brasil pela primeira vez nessa posição. Em uma série de encontros com o setor privado, às vésperas do primeiro turno, viu uma democracia “madura”, o que também é representado pelo fato de a volatilidade nos mercados financeiros ter sido uma das menores na história. “Eu trabalhava como analista financeiro no setor privado em 2002 e nós ficamos sem dormir naquelas eleições, o CDS explodiu. É claro que agora há ainda incertezas sobre a agenda política, mas a percepção é bem positiva. Há uma confiança do setor privado de que, quem quer que seja o ganhador, a economia vai na direção certa.”

Ele aponta que o Brasil aprovou algumas reformas estruturais nos últimos anos, além da independência do Banco Central e a diminuição do papel dos bancos estatais no financiamento da economia, e que o ambiente de juros baixos também ajudou a atrair investimentos. A própria IFC destinou um volume recorde de US$ 4,4 bilhões ao país no ano fiscal encerrado em junho. Agora, após o ciclo de aperto monetário e os gastos para enfrentar a pandemia, Mora afirma que o governo precisará de um plano fiscal credível.

“Não importa se o teto de gastos é 10%, 20% ou 30%, o que precisa é ter um plano credível. Disciplina fiscal não é uma questão moral, ideológica, é matemática. Tem impacto direto no custo de financiamento do país, tem consequências negativas. Não significa que é preciso ter superávit este ano, no próximo e no próximo, mas ter uma trajetória sustentável. E ter estabilidade na disciplina fiscal é especialmente importante em um contexto de juros em alta”, afirma.

Mora aponta que, com a guerra na Ucrânia e o fenômeno conhecido como “nearshoring” - quando uma empresa transfere suas operações de um país mais distante para outro mais perto do mercado consumidor - surgiram oportunidades para locais como o Brasil, que além de ser um grande exportador de commodities têm uma matriz de energia bastante limpa. Nesse sentido, ele acredita que o Brasil está bem-posicionado para lidar com os desafios que estão surgindo, mas acrescenta que o país poderia e deveria fazer muito mais em termos ambientais.

O vice-presidente da IFC acredita que a urgência da questão climática está clara e que o Brasil deve avançar seja qual for o novo governo. “O setor privado tem se movimentado, não espera o setor público. Mas também é verdade que se fossem estabelecidas prioridades de políticas públicas, o setor privado poderia fazer mais. O Brasil precisa fazer mais e tem meios para isso. Na questão da descarbonização, por exemplo, o Brasil pode liderar o jogo global”, diz.

Ele lembra que no ano fiscal de 2022, 62% dos financiamentos de longo prazo realizados com recursos próprios da IFC no Brasil tiveram um componente climático. Além de bônus verdes e azuis (voltados para proteção dos recursos hídricos), o órgão deve promover ainda este ano no país o primeiro bônus de gênero, onde 100% dos recursos vão para empreendimentos liderados por mulheres.

No cenário macroeconômico da América Latina em geral, Mora aponta que a região precisa de estabilidade, mas que só isso não é suficiente, também precisa avançar com reformas estruturais que impulsionem o crescimento potencial. Ele lembra que, segundo o Banco Mundial, América Latina e Europa serão as regiões com menor crescimento neste ano. “A América Latina precisa continuar trabalhando em reformas para elevar o crescimento potencial. Não estou falando de patamares asiáticos, mas para pelo menos 4%. Essa é uma região que quando cresce menos de 2% destrói empregos, cria fragilidade, violência, desigualdade. E na última década muitas vezes ficou abaixo disso.”

O executivo aponta que IFC e Banco Mundial trabalham para estimular três pilares na região: aumento da produtividade, inclusão social e a questão climática. No caso do Brasil, ele aponta que algumas medidas de liberalização, que ajudariam inclusive a acelerar o processo de adesão à OCDE, poderiam andar mais rápido. “Pensando do ponto de vista do investidor internacional, seria bom ver as coisas andando um pouco mais rápido. Mas entendemos que, do ponto de vista das autoridades, é preciso estabelecer um ritmo que não crie instabilidade nos mercados.”

Sobre a digitalização, ele aponta que o Pix, capitaneado pelo Banco Central, colaborou para a inclusão financeira de milhões de pessoas. “O Pix é incrível, disruptivo, melhorou a vida de muita gente, formalizando parte da economia.”

Fonte: Valor
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 05/10/2022