Economia começa a dar sinais de desaceleração. IGP-M abaixo de 5% entra no radar.

Economia começa a dar sinais de desaceleração. IGP-M abaixo de 5% entra no radar.

A economia brasileira começa a dar sinais de desaquecimento por causa do alto patamar da taxa de juros.

A desaceleração é mais evidente na indústria, mas também já afeta o comércio, onde as condições de crédito mais apertadas e o endividamento das famílias limitam o crescimento das vendas. Para os serviços, hoje o setor que mais cresce, a expectativa é de que o desempenho continue positivo pelo menos até o fim deste ano.

O desaquecimento da atividade econômica se reflete em uma perda de confiança entre empresários e consumidores. Segundo o superintendente de estatísticas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), Aloisio Campelo Jr., o setor produtivo espera uma desaceleração na atividade econômica nos próximos meses.

“Há certa resiliência no setor da construção, que continua registrando aumento da carteira de contratos e um bom nível de atividade corrente. No extremo oposto, a desaceleração continua se aprofundando na indústria, com queda do nível de utilização da capacidade pelo terceiro mês seguido e piora da percepção sobre a procura interna e externa por produtos industriais. No setor de serviços, o bom momento do segmento de serviços prestados às famílias vem segurando uma queda mais acentuada da confiança”, diz ele.

A coordenadora de sondagens do Ibre/FGV, Viviane Seda Bittencourt, aponta que os consumidores de menor poder aquisitivo pode estar mais otimistas pelo efeito das transferências de renda, redução da inflação e crescimento dos postos de trabalho. As famílias de maior renda, por outro lado, estão revendo suas expectativas.

“Apesar do resultado mais favorável para as classes de renda mais baixa, o endividamento das famílias e as taxas de juros mais elevadas limitam uma recuperação mais robusta”, afirma Bittencourt.

As projeções de economistas para a economia brasileira em 2023 mostram uma certa dispersão, mas mesmo os mais otimistas esperam crescimento inferior ao de 2022.

O ponto médio das expectativas de bancos e consultorias aponta para crescimento de 2,77% neste ano e de apenas 0,7% no próximo – as expectativas para 2023 vão de retração de 0,5% a avanço de 2,31%, segundo o boletim Focus, do Banco Central.

O Ministério da Economia, por sua vez, projeta alta de 2,7% em 2022 e 2,1% em 2023. A expectativa da equipe de Paulo Guedes para o próximo ano era de 2,5%, mas foi reduzida na última quinta-feira (17).

Um dos setores onde a perda de ritmo é mais evidente é na indústria. Segundo o IBGE, a produção encolheu 1,1% nos nove primeiros meses deste ano e 2,3% no acumulado de 12 meses.

Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), faturamento, emprego e utilização da capacidade instalada recuaram em setembro. Mesmo assim, o setor mantém-se em relativo otimismo.

“Apesar da desaceleração registrada nesse mês, existem elementos que podem afetar positivamente a indústria de transformação, entre eles a recomposição contínua da renda da população, que permite a sustentação do consumo dos bens industriais, e a reorganização da cadeia produtiva, que alivia a pressão sobre os custos de transformação”, explica a economista Larissa Nocko, da CNI.

A expectativa do MUFG Brasil é diferente. O banco acredita que a combinação de condições de crédito mais apertadas a partir da alta taxa de juros – atualmente a taxa Selic está em 13,75% ao ano – em meio a um aumento de endividamento das famílias leve a uma demanda mais fraca de bens mais caros, como veículos, eletrônicos e eletrodomésticos.

Outra ameaça vem de fora. “A provável extensão da política de Covid zero na China leva ao risco de paralisações adicionais de fábricas por lá, o que afeta a cadeia de suprimentos de componentes industriais”, aponta o banco.

Outra pesquisa feita pela CNI aponta que a falta ou alto custo da matéria-prima deixou de ser o principal problema para as micro e pequenas indústrias, setor extrativo e da construção. Na indústria de transformação, o entrave ainda é o principal problema, porém com menor intensidade.

“O problema da falta ou alta do custo de matéria-prima não deixou de existir, mas foi menos assinalado no terceiro trimestre pelas pequenas indústrias. A expectativa é de que recue ainda mais no fim de 2022”, afirma a analista de políticas e indústria da CNI, Paula Verlangeiro.

Os economistas Marco Caruso e Eduardo Vilarim, do banco Original, também não veem muito motivo para otimismo no setor. Segundo eles, a perspectiva de desaceleração global tende a trazer um viés negativo para a indústria extrativa, especialmente a de mineração de ferro, cujos preços caíram pela metade desde abril.

Eles apontam que a indústria de transformação esbarra em uma taxa de juros mais alta, que tende a diminuir investimentos e a demanda por produtos de maior valor agregado. Um dos poucos segmentos que deve ter um desempenho mais forte é o alimentício, puxado pelas boas expectativas para a safra.

IGP-M abaixo de 5% entra no radar
Deflação no atacado causou recuo de 0,55% na segunda prévia de novembro

O Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) de 2022 pode encerrar o ano com taxa inferior a 5%, segundo o economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). Ele fez a observação ao comentar a queda de 0,55% na segunda prévia de novembro, ante recuo de 0,83% em prévia equivalente de outubro, anunciada ontem pela fundação.

Braz comentou que, assim como ocorreu com IGP-10 de novembro, a deflação mais fraca foi causada por aumentos mais intensos de preços em varejo e construção, respectivamente 30% e 10% do total do indicador. No entanto, como o atacado, 60% do IGP-M, permaneceu em deflação, o indicador se manteve com taxa negativa em sua segunda prévia, afirmou ele.

Como há possibilidade de o atacado continuar em queda de preço no próximo mês, Braz não descarta IGP-M de dezembro em taxa negativa - o que abre possibilidade de a taxa anual encerrar o ano abaixo de 5%. Em 12 meses, o IGP-M acumula alta de 5,91% até a segunda prévia de novembro. No ano passado, o indicador subiu 17,78%.

Ao detalhar a trajetória da segunda prévia de novembro, o economista da FGV explicou que os preços do atacado, representados dentro do IGP-M pelo Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), passaram de -1,19% para -0,90%. A deflação mais fraca foi causada por aumentos em preços importantes no cômputo total do IPA, como soja em grão (0,94%), farelo de soja (2,18%) e óleo de soja em bruto (5,28%). Em contrapartida, outras commodities de peso na formação do IPA permaneceram em queda, notou ele. São os casos de minério de ferro (-10,48%), café em grão (-19,60%) e bovinos (-1,92%).

Braz comentou que os preços das commodities têm oscilado muito, por causa de sinais de desaceleração da economia mundial, com possibilidade de recessão global. Na prática, os recuos de preço nessas commodities acabaram mantendo IPA em retração, embora mais fraca, na segunda prévia de novembro.

O recuo na prévia do IGP-M poderia ter sido mais intenso, não fosse aceleração de preços no Índice de Preços ao Consumidor (IPC) e no Índice nacional de Custo da Construção (INCC), que representam os preços do varejo e da construção. Esses dois sub-indicadores tiveram, respectivamente, aceleração de 0,29% para 0,54%; e fim de deflação de -0,06% para 0,17% da segunda prévia de outubro para igual prévia em novembro.

No varejo, pesaram aumentos em passagem aérea (2,64%) e em gasolina (1,19%), enquanto na construção o setor sofre impacto de dissídios salariais, que acelerou preços de mão de obra (0,47%).

No entanto, mesmo com perspectiva de continuidade de alta de preços no varejo, a possibilidade de permanência de deflação, ainda que mais fraca, no atacado deve conduzir à taxa negativa no IGP-M completo de novembro. Caso a taxa de dezembro do IGP-M também fique negativa, isso vai retirar, da série em 12 meses, taxa positiva referente a igual mês em 2021. Em dezembro de 2021, o IGP-M subiu 0,87%. Assim, o resultado completo da taxa anual seria empurrado para baixo, disse Braz. “Creio que não está descartado IGP-M [de 2022] inferior a 5%.”


Com agências de notícias (Gazeta do Povo e Valor)
Fonte: Infomet
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 22/11/2022