Economia chinesa ruma para pior ano em décadas

Economia chinesa ruma para pior ano em décadas

Seis meses depois de o governo da China definir metas econômicas ambiciosas para o ano, o crescimento do país desacelerou tanto que vários grandes bancos duvidam de que até mesmo um objetivo de 3% seja alcançável.

As projeções de crescimento caíram implacavelmente desde março, quando a meta oficial de cerca de 5,5% foi anunciada. A previsão de consenso dos economistas consultados pela Bloomberg é de que a economia cresça 3,5% neste ano, o que seria a segunda leitura anual mais fraca em mais de 40 anos. Analistas do Morgan Stanley e do Barclays estão entre os que preveem um crescimento ainda mais fraco à medida que os riscos se acumulem até o fim do ano.

A política rigorosa de covid-zero da China, com seus lockdowns e testes em massa, não é a única coisa a golpear a economia. O colapso do mercado dos imóveis residenciais, a seca e a fraca demanda interna e externa também prejudicaram o crescimento.

Na semana passada, a principal economista do Barclays para a China, Jian Chang, cortou sua previsão de crescimento de 3,1% para 2,6%, e citou a “contração mais profunda e longa do mercado imobiliário, a intensificação dos lockdowns por causa da covid e a desaceleração da demanda externa”. Ela escreveu que a crise de liquidez sofrida pelas incorporadoras se estenderá até 2023 e a fraca confiança no mercado imobiliário e na economia impedirá qualquer recuperação significativa nas vendas de imóveis residenciais.

Amanhã, o governo chinês divulga dados de agosto, que provavelmente mostrarão pouca melhora na produção industrial, nas vendas de varejo e no investimento. Os números de setembro também não parecem melhores, pois os primeiros indicadores sugerem mais contração no mercado de imóveis residenciais e desaceleração nos gastos do consumidor por causa das restrições a viagens.

Enquanto o Partido Comunista se prepara para seu congresso de liderança, que acontece duas vezes por década e está marcado para meados de outubro, as restrições relativas à covid foram reforçadas e as viagens são desencorajadas para evitar a propagação da doença, o que afetará os gastos com turismo para o feriado nacional de nove dias no início de outubro.

O maior obstáculo para a economia é a política de zero-covid com a qual o governo continua comprometido, apesar das novas cepas tornar cada vez mais difícil o controle dos surtos. Neste ano, a China já registrou 865 mil casos.

Grandes cidades como Xangai, Shenzhen e, mais recentemente, Chengdu impuseram lockdowns e fecharam empresas para conter surtos. Testes frequentes para a covid são obrigatórios - a cada 48 horas em Pequim -, mesmo em locais onde não há surtos.

Depois de um lockdown, os gastos de consumo demoram meses para se recuperar. A confiança do consumidor caiu para seu nível mais baixo em quase 10 anos em abril e mal se recuperou desde então. O turismo foi dizimado.

A crise no mercado de imóveis residenciais começou em 2020 como uma tentativa do governo de reduzir o volume de dívida de risco detido pelas incorporadoras. Grandes construtoras ficaram inadimplentes e interromperam obras, proprietários de imóveis pararam de pagar as prestações do financiamento porque as casas não eram construídas e a demanda por concreto, aço e tudo o mais que é necessário para construir apartamentos despencou.

Não há sinal de que a contração nas vendas de imóveis residenciais esteja diminuindo. Os quase 900 bilhões de yuans (US$ 129 bilhões) relativos a casas vendidas em julho deste ano ficaram cerca de 30% abaixo do valor vendido um ano antes. As vendas caíram no mesmo ritmo em agosto e os dados preliminares de setembro mostraram a continuidade dessa tendência.

A crise minou a riqueza das famílias, que mantêm grande parte de seu patrimônio em imóveis.

A crise imobiliária afetou o crítico setor manufatureiro da China. A produção de aço caiu para o menor nível dos últimos quatro anos em julho e, embora haja alguns sinais de uma recuperação, a demanda continua muito fraca, com estoques no fim de agosto 41% maiores do que no início deste ano. E a produção de cimento ao longo do último ano foi a mais baixa em mais de uma década.

Embora isso seja bom para reduzir as emissões de carbono da China, não é para o setor manufatureiro, que se contraiu pelo segundo mês seguido em agosto.

A demanda mundial por produtos fabricados na China também se desacelerou depois de um boom de dois anos e meio nas exportações, o que é outro problema para a manufatura. Embora o valor das exportações ainda tenha subido 7,1% em agosto em relação a um ano antes, os volumes estão sob pressão. O porto de Xangai, o maior do mundo, processou 8,4% menos carga por peso em agosto, comparado com um ano antes.

Além de tudo isso, a China teve o verão mais quente de sua história. A seca e o calor provocaram falta de energia em algumas áreas, reduziram a produção em julho e agosto e prejudicaram colheitas.

Fonte: Bloomberg News
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 15/09/2022