Dólar alto e medidas de Trump devem dar tom do mercado brasileiro de aço em 2025, apontam analistas

Dólar alto e medidas de Trump devem dar tom do mercado brasileiro de aço em 2025, apontam analistas

O dólar alto e a possibilidade de uma economia mais “morna” no ano que vem podem contribuir para limitar as importações de aço no Brasil, segundo analistas. Esses fatores, somados à imposição pelo governo brasileiro das cotas tarifárias sobre o aço, em junho, deverão contrapor outras tendências globais para o produto.

Na contramão, o esperado aumento de tarifas pelo governo norte-americano deve contribuir para que a China redistribua a já criticada sobre-oferta de aço para exportação. São essas duas forças que ilustram o cenário para a commodity no Brasil em 2025.

As principais empresas de aço que atuam no Brasil têm condenado os altos volumes de importação do produto no país neste ano. Segundo o Citi, as importações aumentaram 41% em outubro, na comparação com igual período de 2023.

“As vendas domésticas estão subindo 17% na comparação anual e 9% desde o início de 2024 até outubro, mas a pressão das importações limita um aumento de preço”, diz o banco, em relatório datado de 21 de novembro. “Os preços para aços longos mostraram alguma melhora nos últimos meses, enquanto os preços dos planos permanecem limitados pelas importações.”

O fundador e presidente-executivo do conselho de administração doGrupo ArcelorMittal, Lakshmi Mittal, disse no dia 13 de novembro, ao visitar a expansão da fábrica do grupo em Santa Catarina, que a quantidade de aço importado no Brasil tem gerado uma concorrência injusta. Mittal afirmou que os investimentos do grupo têm sido executados, apesar das dificuldades do mercado doméstico.

“Novos investimentos no Brasil foram executados, apesar da concorrência injusta de produtos importados, que afetam oportunidades de crescimento de novos negócios”, disse. Em sua visita ao Brasil, o executivo indiano se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e afirmou que o governo brasileiro está aberto ao diálogo.

O presidente da Gerdau, Gustavo Werneck, afirmou, por ocasião da divulgação de resultados da companhia, em novembro, que é necessário que o governo eleve as tarifas para os produtos importados, que têm aumentado sua entrada por Manaus, desviando-se dos impostos. “Tarifa de importação de aço no Brasil deveria subir de 25% para 35%. Traria mais equilíbrio.”

Segundo o executivo, a produção elevada da indústria chinesa tem aumentado a entrada dos produtos no Brasil: “A China é a grande perturbadora do mercado global de aço.”

A produção de aço na China aumentou 3% em outubro, em comparação com igual mês de 2023, para 81,9 milhões de toneladas, sendo o maior produtor global da commodity, de acordo com dados da World Steel Association. Em segundo lugar, fica a Índia, com 12,5 milhões de toneladas. O Brasil produziu, em outubro, 3,1 milhões de toneladas, 16,2% a mais que em outubro do ano passado.

Na visão de Daniel Sasson, analista do Itaú BBA, o próximo ano vai ser desafiador para o setor: “De um lado, temos a desaceleração da atividade, um ambiente mais complicado, e de outro um câmbio mais depreciado. Isso deve gerar uma menor competição pelo produto importado.” Para Sasson, o dólar mais caro deve afastar a compra do produto importado, o que pode abrir espaço para aumento do preço do aço no Brasil.

O analista também afirma que a tarifa imposta pelo governo brasileiro não teve o resultado desejado de coibir as importações em 2024, o que permitiu que o produto estrangeiro ganhasse espaço neste ano. O aço plano importado representa 30% do consumo do produto no país, segundo Sasson, enquanto o aço longo importado tem 20%.

Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, acredita que o preço do aço longo no Brasil deve ter um aumento de 5% em 2025, passando dos US$ 705 por tonelada, conforme cotado na sexta-feira (29), para US$ 740 por tonelada.

Conforme Arbetman, essa variação pode depender da demanda interna da China e dos Estados Unidos, o que será determinado pelo ritmo econômico dos países. O analista também destaca as medidas mais restritivas ao produto estrangeiro esperadas pelo novo governo Trump, além de subsídios que o presidente americano eleito pode definir para o mercado interno.

“O aço chinês tomou conta do mundo, o que também inclui os Estados Unidos. Precisamos ver como Trump vai querer se defender. Como a economia por lá também está morna, há um excedente para os demais países compradores.”

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 04/12/2024