Desempenho da economia deve ajudar resultados no 3º trimestre

Desempenho da economia deve ajudar resultados no 3º trimestre

O desempenho da economia brasileira deve impulsionar o resultado das empresas que atuam no mercado doméstico durante o terceiro trimestre, apesar de ainda ser incerto o real impacto das medidas de estímulo no período. Analistas acreditam que o varejo voltado à alta renda vai se manter resiliente, enquanto as dúvidas residem no de baixa e média renda. Já para as commodities, minério e aço desvalorizados devem ter impacto negativo nos números.

“No geral, o que estamos vendo é uma temporada levemente positiva tanto na comparação trimestral quanto na anual para alguns setores da economia doméstica, além do que esperávamos anteriormente”, diz Gabriela Joubert, analista-chefe do Inter. Ela destaca que o arrefecimento da inflação e a atividade econômica acima do esperado devem impulsionar os números.

Setor de commodities metálicas deve ser destaque negativo, com desvalorização do minério de ferro

A maioria dos bancos estima crescimento de 0,5% na comparação anual para o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre. A categoria de serviços sustenta essa expansão, favorecendo as empresas. Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve apresentar um cenário de deflação em categorias importantes de consumo entre julho e setembro.

Os custos das companhias, que pressionaram os resultados no segundo trimestre, devem ter retração no período encerrado em setembro, estimam os analistas, com redução nos preços dos combustíveis e o alívio nas cadeias globais, reduzindo despesas com frete e materiais básicos. Reajustes salariais, no entanto, em meio à temporada de dissídios, podem aumentar despesas com pessoal.

“Quando comparamos com o segundo trimestre do ano, no terceiro trimestre as empresas parecem ter conseguido repassar os custos aos consumidores, acompanhando a melhora do PIB”, afirma Aline Cardoso, estrategista institucional de ações para o Brasil do Santander. Entre os principais destaques, estão construtoras, shoppings, transporte, varejo e saúde - este impulsionado sobretudo por fusões.

Nas empresas sob a cobertura do banco, o Santander estima um crescimento de 16% nas receitas na comparação anual e de 3,7% sobre o segundo trimestre. Já o lucro líquido deve subir 17,8% no ano e 22,7% ante o período de abril a junho. O banco espera que o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) cresça 15,4% na comparação anual e 11,5% sobre o segundo trimestre.

A XP tem estimativas parecidas, esperando que as receitas aumentem 23,2% na comparação anual, enquanto o lucro avança 19,6% em um ano e o Ebitda suba 24,9%. Levando em consideração o consenso do mercado, a corretora projeta que a margem Ebitda deve cair 0,63 ponto percentual. Sobre o segundo trimestre, esperam certa estabilidade em receita e em Ebitda.

Para Bruno Lima, analista sênior de renda variável do BTG Pactual, apesar da atividade econômica doméstica mais positiva, ainda é cedo para projetar uma melhora em todos os setores. Ele acredita que, quando a taxa de desemprego estiver mais baixa, os ativos de consumo e varejo expostos a um tíquete mais alto terão aceleração de receita.

“Temos visto os números de PIB melhorando, mas isso vem ajudando segmentos específicos, como o varejo de alta renda”, afirma. Lima diz que o varejo on-line ainda deve ter um trimestre desafiador, devido à exposição a produtos linha branca, como eletrodomésticos, que têm preços elevados. Os efeitos do Auxílio Brasil no consumo devem ser sentidos nos três meses finais do ano.

O resultado do Assaí no terceiro trimestre, divulgado na última semana, dá pistas de como o varejo alimentar, principalmente o voltado para baixa renda, pode se comportar. O apelo custo-benefício das lojas brasileiras é o principal destaque do segmento, indica o Goldman Sachs.

A rede de atacarejo registrou receitas de R$ 13,8 bilhões, alta de 27,5% em um ano. As vendas mesmas lojas, indicador utilizado para medir crescimento em lojas com pelo menos 12 meses de existência, avançaram 9%. O resultado veio 2,4 pontos percentuais acima do GPA Brasil no mesmo indicador, quando comparado ao relatório de vendas deste último no terceiro trimestre.

“O varejo alimentar tem essa resiliência porque é consumo básico e isso cria uma capacidade de repasse de preços muito forte, mantendo margens”, comenta Joubert. O varejo de vestuário deve ter resultados mistos, com o inverno mais fraco prejudicando vendas da temporada, mitigado parcialmente com a retomada das atividades presenciais, aumentando procura por roupas.

As empresas que lidam com commodities metálicas devem ser o destaque negativo da temporada, com o minério de ferro caindo cerca de 36% no terceiro trimestre, na comparação anual. O petróleo ainda tem alta de aproximadamente 32% em um ano, mas caiu 13% sobre o segundo trimestre. Já o setor de papel e celulose aparece entre os destaques positivos, diante do preço da celulose resiliente, acima de US$ 800 a tonelada.

As dúvidas sobre a demanda global por minério e petróleo, com preocupações sobre a recessão, afetam os números. “Principalmente no setor de mineração, as receitas devem ser impactadas pelos preços menores, uma vez que as vendas ainda estão fracas, apesar dos volumes terem melhorado”, aponta Joubert, do Inter. As margens das mineradoras devem sofrer com esse cenário, além de uma demora no arrefecimento dos custos que é natural para o setor.

Para o quarto trimestre, a atividade da China fica no radar, indica o analista do BTG. O país, que importa mais de 60% do minério brasileiro, tem apresentado crescimento aquém do esperado. O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre) espera que o PIB chinês fique em 3,4% em 2022, bem abaixo da meta do governo de 5,5%.

“Em petróleo e gás esperamos uma produção forte, com o barril se mantendo na casa dos US$ 100, o que deve deixar as receitas das companhias em patamares saudáveis”, comenta Gabriel Barra, analista do Citi. A queda nos preços dos combustíveis, no entanto, deve afetar os números das empresas do setor, gerando perda com estoques e compressão nas margens.

O setor de energia, que no terceiro trimestre de 2021 sofreu com a seca prolongada, neste ano deve ter resultados mais tranquilos. Na visão do Credit Suisse, geração deve ter alívio nos custos com redução do risco hidrológico, enquanto distribuição pode ver resultados mistos e transmissão será ajudada por reajustes contratuais.

Fonte: Valor
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 26/10/2022