Cresce medo de recessão, e preço de metais industriais derrete

Cresce medo de recessão, e preço de metais industriais derrete

A breve onda de alta nos preços dos metais de uso industrial no verão europeu sofreu uma forte reversão diante do medo dos operadores com o agravamento da crise energética na Europa e os sinais de desaceleração na potência industrial China.

O índice S&P GSCI de metais industriais desvalorizou-se mais de 9% desde meados de agosto e voltou para perto dos baixos patamares de julho, quando os temores de uma recessão mundial pairavam sobre as mesas de operações.

O indicador, que acompanha o preço à vista de metais como o cobre, níquel e alumínio, acumula queda de 17% em 2022, depois de ter chegado a subir mais de 25% em seu pico com a invasão da Ucrânia pela Rússia.

A retomada da tendência de vendas dos metais industriais, usados para fabricar uma ampla série de produtos, desde peças de automóveis até fios elétricos e aço, mostra como as preocupações com a demanda mundial voltaram à tona. O temor dos economistas é que o aumento nos preços da energia tenha forte impacto na indústria.

“Tudo isso se resume à recessão e ao medo de recessão”, disse Clive Burstow, chefe de recursos naturais da administradora de investimentos Barings. “O medo é que estejamos numa crise de energia guiando-nos a uma recessão. No que há divergência no mercado é quanto à profundidade que essa recessão terá.”

Os preços do gás na Europa saltaram 17% na segunda-feira (5), depois de a Rússia anunciar que suspenderia indefinidamente o envio de gás por um importante gasoduto para a Europa, o que os levou de volta para os patamares recorde vistos no fim de agosto. Os altos preços do gás trazem o temor de que grandes empresas e consumidores precisem racionar o uso para reduzir suas contas.

“A destruição da demanda está ocorrendo no lado do consumidor, então isso está se infiltrando nos mercados de metais”, disse Peter Ghilchik, chefe de análise de commodities na firma de consultoria CRU.

O cobre, um termômetro da saúde econômica mundial, caiu cerca de 6%, para mais de US$ 7.650 por tonelada em pouco mais de uma semana, apagando a maior parte da recente alta do metal de amplo uso industrial. Antes dessa breve alta, o metal vinha de uma forte queda, na esteira do recorde atingido em março, de mais de US$ 10.600 por tonelada. O minério de ferro, usado na produção de aço, caiu para menos de US$ 100 por tonelada, em comparação aos mais de US$ 160 por tonelada do início do ano.

As más perspectivas foram agravadas pela série de dados econômicos decepcionantes da China, maior consumidor de matérias-primas do mundo, que continua impondo lockdowns contra a covid-19, com medidas restritivas que afetam dezenas de milhões de pessoas em Chengdu e Shenzhen.

O índice de atividade econômica da Caixin, que é acompanhado de perto pelo mercado e foi divulgado na semana passada, mostrou que o gigantesco setor industrial chinês passou a território negativo em agosto, quando os novos pedidos caíram pela primeira vez em três meses.

Nos Estados Unidos, o banco central enviou em agosto um forte recado sobre sua determinação de domar a inflação aumentando as taxas de juros, o que ajudou a impulsionar o dólar americano para o maior patamar em 20 anos em relação a uma cesta de moedas. Os preços das commodities, em sua maioria negociadas em dólar, tendem a cair quando a moeda americana sobe e as torna mais caras para investidores com outras moedas.

Colin Hamilton, diretor-gerente de análises de commodities da BMO, disse que o enfraquecimento constante do yuan chinês em relação ao dólar alimentou ainda mais a desvalorização das commodities, uma vez que encareceu as importações de matérias-primas pela China.

Os receios quanto às economias da Europa, EUA e China levaram o banco alemão Commerzbank a rebaixar suas projeções de preço dos metais básicos mais importantes para os próximos dois trimestres.

Por outro lado, as preocupações com a oferta vêm ajudando a limitar a queda das cotações dos metais industriais, segundo analistas. O setor já foi atingido pela paralisação de instalações em razão da disparada dos preços do gás e da energia na Europa. Na sexta-feira, a produtora holandesa de alumínio Aldel anunciou que desativaria uma de suas usinas, enquanto a ArcelorMittal comunicou o desligamento de um dos altos-fornos de uma siderúrgica em Bremen, na Alemanha.

Ghilchik disse que a maior parte da onda de vendas de metais já acabou, mas ele prevê solavancos nas próximas semanas, à medida que os operadores avaliem a gravidade da recessão em relação aos problemas no lado da oferta.

“Parece que os preços atingiram ou estão próximos do ponto cíclico mais baixo e, de forma geral, os preços das commodities devem permanecer sustentados pelas preocupações com a oferta e outros fatores”, disse.

O Goldman Sachs destacou que as commodities, mais do que os de qualquer outra classe de ativos, levam em conta em seus preços os riscos de recessão. “Os temores excessivos de recessão continuam a dominar os mercados de commodities”, escreveram analistas do banco de investimento em nota a investidores, acrescentando que “os fundamentos físicos sinalizam alguns dos mercados mais apertados [no lado da oferta] em décadas”.

Fonte: Financial Times
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 08/09/2022