Como mineração da Braskem em Maceió levou ao risco de colapso de 5 bairros

Como mineração da Braskem em Maceió levou ao risco de colapso de 5 bairros

A instalação em Maceió na década 1970 da empresa Salgema, que anos depois se tornou uma das operações da gigante Braskem, forçou a retirada de cerca de 60 mil pessoas de 5 bairros da capital alagoana desde 2019. Agora, desde que um alerta da Defesa Civil foi emitido no fim de novembro, as localidades estão sob risco de colapso.

No episódio do podcast O Assunto desta quarta-feira (6), os jornalistas Lenilda Luna, que cobre a atuação da Braskem na cidade há 27 anos, e Cau Rodrigues, coordenador de conteúdo do g1 Alagoas, recontam a história da extração pela empresa do sal-gema em Maceió. O minério é utilizado na fabricação de soda cáustica e PVC.

Rumores sobre vazamento de cloro

Luna contou que, até 2018, quando foi registrado um tremor que provocou rachaduras em imóveis de Alagoas, não se falava no risco de desabamentos devido à atividade de mineração da Braskem. Segundo ela, por muito tempo, anos atrás, falava-se apenas sobre a possibilidade de vazamento de cloro pelo ar, mas não de afundamento do solo.

“A gente tinha ideia de que a sal-gema era extraída do subsolo, mas não visualizava, não tinha informações, de em que quantidade, como era isso, a que profundidade.... Muito menos que estava transformando Maceió num queijo suíço, essa imagem a gente não tinha”, explica.

Segundo Lenilda, a empresa foi instalada em 1977 e, no começo da década de 1980, iniciou-se uma discussão sobre os riscos que a extração do minério apresentava. No entanto, ela afirmou que só na década seguinte, quando ela já atuava como repórter, passaram a ser feitos treinamentos com a imprensa devido aos rumores do risco de vazamento de cloro pelo ar.

À medida que a Braskem investiu em ações de responsabilidade social, segundo Lenilda, o assunto deixou de ser debatido e virou o que ela chama de “mostro quieto”. “[Foi] como aquele vulcão que, como tá dormindo há muito tempo, você começa a acreditar que ele é só uma montanha inofensiva”, explica.

Tremor de 2018

O assunto só voltou à tona após o tremor de 2018, quando foram feitos estudos que identificaram a culpa da atividade da Braskem no fenômeno.

“A gente não pensava no subsolo [até o tremor], a gente não tinha essa ideia de um buraco, de um grande queijo suíço na cidade. As paredes [debaixo do solo] não estavam mais aguentando o vão que ficou lá embaixo [...], que a terra começou a pressionar pra acomodar. Isso [aconteceu] em bairros densamente povoados”, explica.

Ordens de evacuação

As áreas sob risco de afundamento começaram a ser desocupadas em 2019, a partir de ordens de evacuação para mais de 14 mil imóveis.

Conforme explicou Cau Rodrigues, a Braskem criou programa de compensação financeira para oferecer apoio de realocação e indenização para famílias que tinham ido para outros bairros. No entanto, segundo o jornalista, muita gente precisou ir para bairros muito distantes pois não encontrava imóveis do mesmo padrão de antes pela mesma região.

“Há famílias que saíram do bairro do Pinheiro [que foi evacuado], que fica a 5 km do Centro, e foram para bairros muito mais fastados, a 10, 15 km do Centro, porque foi onde conseguiu comprar imóvel no mesmo padrão que vivia antes, mas já numa área muito mais afastada”, afirma.

"Há parte dos bairros [evacuados] onde ainda é possível transitar. E quando a gente passa por esses locais onde antes havia prédios, escolas, são ruínas ou terrenos baldios, porque muitos prédios precisaram ser demolidos devido ao risco de cair."

O jornalista lembrou, ainda, que famílias que hoje moram no entorno dos bairros já atingidos também estão à espera de qualquer possilidade de alerta para deixar suas casas. "Muita gente está vivendo sob alerta com sua muda de roupa pronta para sair de casa", diz.

Fonte: G1
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 07/12/2023