Com ociosidade alta, indústria do aço da América Latina projeta aumento marginal de demanda em 2023

Com ociosidade alta, indústria do aço da América Latina projeta aumento marginal de demanda em 2023

As empresas produtoras de aço na América Latina esperavam que 2022 mantivesse o mesmo nível de demanda observado em 2021, considerado o melhor ano para a atividade na região. Mas as expectativas começaram a se frustrar logo nos primeiros meses, com a deflagração da guerra entre Rússia e Ucrânia. Depois, o movimento de aperto monetário nas principais economias globais trouxe um cenário recessivo que afastou de vez a projeção de um consumo maior, tendência que continua em 2023.

“A previsão era de aumento no consumo, mas ela foi ‘virando’ ao longo do ano por causa dos problemas externos. O ano que tinha a expectativa de ser bom ficou na média”, reconhece Alejandro Wagner, diretor-executivo da Associação Latino-Americana do Aço (Alacero), fórum que reúne mais de 60 empresas do setor na região, como Gerdau (GGBR4), Usiminas (USIM5) e ArcelorMittal.

O consumo aparente de aço na América Latina, que considera a quantidade produzida combinada com números de exportação e importação, chegou ao pico de 74,9 milhões de toneladas em 2021, crescimento de 25,8% sobre 2020 por conta de uma demanda reprimida da pandemia. No ano passado, o índice chegou a 67,8 milhões de toneladas, representando um recuo anual de 9,5%, mas dentro das médias observadas entre 2018 e 2019, período pré-covid.

O desempenho reflete uma desaceleração da economia regional ao longo do ano, lembra Wagner. Vale destacar que há uma forte correlação entre o consumo de aço e o Produto Interno Bruto (PIB) dos países, uma vez que a demanda por aço e minério se traduz em uma nação que está investindo mais em obras e com a indústria em plena capacidade – cenário que não ocorreu no último ano.

Apesar de o PIB do Brasil ter crescido 2,9% em 2022 e o da América Latina com uma expectativa de alta de 3,6%, o que se observou foi uma tendência de queda ao longo do ano, com uma pressão recessiva para este ano. Outro ponto destacado por Alejandro Wagner foi a base de comparação distorcida em relação a 2021.

Apesar desses problemas, a Alacero projeta atualmente um crescimento de consumo aparente de 1% para este ano – com perspectiva de queda neste percentual.

Ociosidade alta

O dirigente destaca que o atual momento joga a indústria de aço na região para uma capacidade ociosa de 30%. “Não temos problema de oferta, mas um problema estrutural de demanda”, reforça Wagner.

Como exemplo, o diretor-executivo da Alacero utiliza dados do consumo per capta na região em comparação com outras economias. Enquanto na América Latina, o índice está em 105 kg per capta, nos Estados Unidos é de 250 kg por habitante. Europa (350 kg) e China (600 kg) mostram também que ainda há um longo caminho a ser percorrido.

“Há déficits habitacional e de infraestrutura na América Latina, o que por si só seria possível ampliar o consumo. Mas o cenário recessivo e a forte concorrência da China são desafios”, lembra Alejandro Wagner, ao citar uma vantagem de custos e de oferta que os chineses têm sobre a produção de aço latino-americana.

Para destravar a capacidade ociosa, a associação aposta em uma agenda de competitividade, desde a redução de burocracia e tributos, bem como a defesa de que o aço produzido na América Latina é um dos mais sustentáveis do planeta.

“Enquanto a China emite 2,17 toneladas de CO2 por tonelada de aço bruto, nós emitimos 1,66 tonelada. Nosso índice é menor até do que a média global, de 1,89 tonelada”, aponta Wagner.

Para garantir emissões ainda menores, o setor estima que serão necessários US$ 50 bilhões em investimentos até 2050. “As empresas já investem muito capital próprio na produção, mas não conseguirão chegar nestas cifras sozinhas, é necessária uma política pública dos países para isso”, conclui.

Fonte: Infomoney
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 08/03/2023