Coalizão parte para a defesa da manutenção do imposto sobre o aço chinês

Coalizão parte para a defesa da manutenção do imposto sobre o aço chinês

Em um momento em que as siderúrgicas se movimentam e pressionam o governo para que aumente a taxação do aço vindo do exterior para 25%, em especial o da China, os segmentos que dependem do insumo partem para defender a manutenção do atual imposto, de 9,6%, e argumentam que o aço produzido no país sai mais caro no mercado interno do que as empresas de siderurgia cobra de seus clientes no exterior.

“O Brasil vende o aço 83% mais caro dentro do país do que na exportação. Até onde me consta, as siderúrgicas não fazem caridade para vender mais barato ao exterior”, argumenta José Velloso, presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). A Abimaq lidera uma coalizão de 20 setores, entre eles infraestrutura (Abdib), naval (Sinaval), autopeças (Abipeças), ferroviário (Abifer), saneamento (Sindesan) e construção civil (CBIC), que se posiciona contra a sobretaxa.

Um exemplo, acrescenta o dirigente, está no custo para as indústrias da bobina quente – tipo de aço utilizado em capôs de carro e porta de geladeiras, por exemplo. O insumo local está hoje 14,9% acima do  importado, de acordo com levantamento semanal da Platts, do grupo S&P. “Estamos falando de uma commodity, há referências de preços. E, mesmo com o atual imposto, sai mais barato trazer do exterior. Enquanto houver essa disparidade, vai ter importação.”

Outro argumento da coalizão pela manutenção da atual taxa está em um iminente repasse de preços, caso a sobretaxa sobre o aço chinês seja aplicada. Velloso lembra que, somente entre as 8,5 mil empresas do setor de máquinas e equipamentos, cerca de 90% compra o aço de distribuidoras, que não estão no debate de preços.

 “Ninguém vai fiscalizar, caso ocorra a taxação, se os preços locais vão seguir nos mesmo patamares ou se as distribuidoras vão embutir o aumento do imposto nos preços. A história já nos mostrou que sempre há o reajuste”, acrescenta o executivo.

Conforme o IM Business já mostrou, o CEO da ArcelorMittal Brasil, Jefferson De Paula, que também preside o Instituto Aço Brasil, defende o aumento do imposto por um ano até que o mercado se reequilibre. “Nós queremos estar nas mesmas condições de Estados Unidos, União Europeia e México [países que aplicaram tributação semelhante]. Nós acreditamos e defendemos o livre comércio, mas ele precisa ser justo. Não dá para sermos bonzinhos do nosso lado enquanto o outro lado trabalha com subsídios”, defendeu.

Como efeito imediato, cerca de 400 funcionários da ArcelorMittal em Resende (RJ) vão entrar em férias coletivas entre novembro e dezembro – o mesmo ocorrerá em Piracicaba (SP) e Juiz de Fora (MG), que terão seu período de parada técnica estendido neste ano. Em outra frente, a Gerdau anunciou a demissão de 700 funcionários e a Usiminas sinalizou que poderá desligar seu alto-forno em Ipatinga (MG).

“Nós empregamos mais que as siderúrgicas e estamos com uma previsão de 10% de queda na receita e, mesmo assim, estamos mantendo empregos”, rebate o presidente executivo da Abimaq. O setor de máquinas emprega pouco mais de 390 mil pessoas e tem faturamento anual em torno de R$ 300 bilhões, enquanto o do aço tem 127 mil funcionários e saldo comercial positivo de US$ 6 bilhões.

José Velloso aponta ainda que são as siderúrgicas que têm tirado mais proveito do custo mais baixo do aço chinês do que as próprias indústrias. Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram um aumento de mais de 880% na importação de aço semi-acabado, que, em sua maioria, é utilizado pelo setor de siderurgia. O volume exportado passou de 45 mil para 443 mil toneladas, o equivalente a US$ 253,1 milhões.

“Nenhuma indústria tem laminador para terminar uma placa de aço. E, também, nem toda a empresa tem fluxo de caixa para esperar de seis a sete meses entre o pedido na China e a chegada do produto”, prossegue o presidente da Abimaq. 

As importações de aço da China dispararam 58% no acumulado do ano até setembro, enquanto a produção nacional caiu 8,4%; as vendas recuaram 5,4%; e as exportações cederam 4,4%, segundo dados do Instituto Aço Brasil.  A previsão é que a entrada de aço chinês no país cresça 50% em 2023 em relação ao ano passado, para 5 milhões de toneladas, ou 25% do consumo anual de aço no país (20 milhões de toneladas).

Fonte: Infomoney
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 05/12/2023