China tenta segurar minério, mas conflito traz incertezas

China tenta segurar minério, mas conflito traz incertezas

Os preços do minério de ferro no mercado à vista, referência para os contratos transoceânicos, passaram por correção em fevereiro e encerraram o mês com recuo acumulado de 5,9%, na segunda baixa mensal consecutiva. Mas a trajetória de queda pode estar com os dias contados, já que a guerra na Ucrânia eleva as incertezas quanto ao equilíbrio entre oferta e demanda global da principal matéria-prima do aço, e tende a afetar as cotações no médio prazo.

Na segunda-feira, último dia de fevereiro, o minério registrou valorização no mercado à vista sustentado pelos receios de que uma guerra prolongada na Ucrânia tenha efeitos também sobre a oferta global da commodity.

Segundo a publicação especializada Fastmarkets MB, a commodity com pureza de 62% de ferro foi negociada a US$ 138,09 a tonelada, com ganho de 2,6% no porto de Qingdao na comparação diária. No ano, a valorização ainda é superior 14%. Ontem, no primeiro dia de março, o ritmo de alta se manteve e a tonelada fechou cotada a US$ 144,18, alta de 4,4% no dia.

Na Bolsa de Commodity de Dalian, os contratos mais negociados para maio encerraram a segunda-feira em alta de 2,7%, para 705,50 (cerca de US$ 111,80) por tonelada, enquanto em Cingapura os contratos para o mês de abril tiveram ganho de 3,3%, a US$ 141,25 por tonelada.

À agência Reuters, o diretor da Navigate Commodities em Cingapura, Atilla Widnell, disse que uma guerra prolongada entre Rússia e Ucrânia deve afetar a oferta global de minério. “Qualquer campanha militar prolongada afetará severamente as exportações anuais, totalizando quase 70 milhões de toneladas da Rússia e da Ucrânia, eventualmente apertando o equilíbrio global”, afirmou.

De acordo com o analista Daniel Sasson, do Itaú BBA, a invasão da Ucrânia tem pouco impacto no mercado de finos de minério de ferro, mas pode chegar ao mercado de pelotas de alto forno. A Vale já havia chamado a atenção para um potencial impacto, mesmo que indireto, do conflito nesse mercado.

Segundo a mineradora brasileira, o mercado de pelotas é de aproximadamente 80 milhoes de toneladas por ano. Enquanto a Rússia exporta 10 milhões de toneladas, a Ucrânia responde por 15 milhões de toneladas. Logo, quase 30% do mercado global de pelotas no conjunto das exportações, destaca o analista.

Se houver restrições nas atividades de produção ou exportação, o prêmio da pelota deve subir no segundo trimestre, indicou o analista, lembrando que as negociações nesse segmento de mercado são trimestrais e os preços do primeiro trimestre já estão fechados. O Itaú BBA tem preço médio de US$ 110 por tonelada de minério em 2022, com “leve viés de alta”.

Na China, a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, órgão de planejamento econômico da China, confirmou na segunda-feira, em comunicado oficial, que vai adotar “medidas efetivas” para coibir a formação de preços artificiais e especulação no mercado de minério de ferro vistas recentemente.

Sem fornecer detalhes sobre as medidas que serão implementadas, o que não surpreendeu analistas e investidores, a comissão alegou que as flutuações recentes nos preços do minério foram “anormais”, uma vez que a relação entre oferta e demanda é, em geral, estável e os estoques domésticos permanecem em níveis elevados.

“A Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma está altamente preocupada com as mudanças de preços no mercado de minério de ferro”, informou no comunicado, acrescentando que “realizará investigações aprofundadas, fortalecerá a supervisão, reprimirá atividades ilegais, como a disseminação de informações falsas, a manipulação de preços e a especulação, e estudará e tomará outras medidas para proteger efetivamente o minério de ferro”.

Há cerca de uma semana, a agência Bloomberg informou que a mais recente tentativa da China de controlar os preços do minério seria um plano para “obrigar os fornecedores globais a negociar com o maior mercado do mundo por meio de uma plataforma centralizada”, controlada pelo Estado.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 02/03/2022