China pretende incentivar o consumo interno e o Brasil pode ser beneficiado
China pretende incentivar o consumo interno e o Brasil pode ser beneficiado
Um relatório da agência de promoção de investimentos do estado de São Paulo, a InvestSP, vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, mostra que a demanda chinesa por produtos brasileiros pode aumentar nos próximos meses.
O relatório foi feito a partir de análises sobre o desempenho do comércio exterior da China no primeiro semestre. A agência tem um escritório em Xangai, que atua para atrair investimentos chineses para São Paulo e abrir espaço para empresas paulistas no mercado asiático.
De acordo com o relatório, há atualmente um esforço da China para diversificar suas fontes de importações, com o objetivo de driblar sanções impostas pelos Estados Unidos e pela Europa, e de fortalecer as relações com seus principais parceiros comerciais fora deste eixo.
É o caso do Brasil. No primeiro semestre, a China foi o maior parceiro comercial do país, com uma corrente de comércio de mais de US$ 81 bilhões e participação no total de 28%.
Pesam, ainda, os esforços do governo chinês para incentivar o consumo interno e forçar uma recuperação econômica no período pós-pandemia e alcançar um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 5% neste ano, meta tida como “difícil, mas não impossível”.
“Para atingir esse número, a China terá de trabalhar fortemente para incentivar as exportações, principalmente de produtos eletromecânicos, e fazer os consumidores gastarem mais”, destaca o diretor da InvestSP em Xangai, Inty Mendoza.
Para o setor manufatureiro do Brasil, a concorrência do “made in China” pode se tornar ainda mais forte. No segmento de máquinas e equipamentos, por exemplo, as importações desde o país asiático são predominantes. No mês de junho, as importações de máquinas somaram US$ 2.307,28 milhões, de acordo com dados da Abimaq. Desse total, mais de 28% foram de produtos de fabricação chinesa, com crescimento de mais de 4 p.p. em relação ao mesmo mês do ano passado. No acumulado do primeiro semestre, houve crescimento de 23,9%.
Segundo dados do governo chinês, o total de exportações e importações da China no primeiro semestre chegou a US$ 2,9 trilhões, alta de 6,1% na comparação com 2023. As exportações responderam por US$ 1,66 trilhão, enquanto as importações, por US$ 1,24 trilhão.
COMMODITIES – Diga-se que o intercâmbio comercial entre o Brasil e a China está sendo cada vez mais substancial. Impulsionado principalmente pelas remessas de minério de ferro, petróleo e soja, o volume exportado pelo Brasil para a China saltou 49,1% no primeiro bimestre de 2024, por exemplo, ante o mesmo período de 2023.
As trocas comerciais com os chineses responderam por 43% do superávit de US$ 11,9 bilhões registrado pela balança comercial brasileira no período, de acordo com o Indicador de Comércio Exterior (Icomex), do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
O superávit da balança comercial brasileira alcançou US$ 5,4 bilhões em fevereiro, um recorde para o mês. No entanto, segundo a FGV, o resultado mais uma vez evidencia a dependência nacional das compras chinesas, além de uma pauta de exportações muito concentrada em commodities, cujo valor é mais baixo.
E, conforme a FGV, há algumas dificuldades no radar, que põe em questão a análise otimista do InvestSP. A primeira é sobre o crescimento da China, que poderá ficar abaixo dos 5% projetados pelo governo do país, afetando o crescimento das exportações brasileiras.
A segunda, como os dados do Icomex ilustram, é a reafirmação da concentração das exportações em commodities e no mercado chinês, nas quais o petróleo brasileiro assume crescentemente papel relavante.
De fato, o destaque da indústria extrativa no primeiro bimestre de 2024 foi o petróleo, que para especialistas poderá ter um papel mais relevante que do que o da agropecuária em curto espaço de tempo.
Na pauta de exportações para a China, o petróleo já responde por 25% das vendas brasileiras, o minério de ferro tem uma fatia também de 25%, enquanto a soja concentra 22%.
Esse índice de concentração de 72% em apenas três produtos de baixo valor agregado, segundo a FGV, deveria ser motivo de preocupação para o país, pois a tendência é do aumento desta fatia.
No primeiro bimestre, a participação da China nas exportações brasileiras foi de 29,1%, com aumento em valor de 47% nas exportações (alta de 49,1% em volume). O saldo foi de US$ 5,2 bilhões, 43% do superávit total do Brasil.
Quanto aos demais principais parceiros comerciais do Brasil, as exportações para os EUA cresceram 21,5% no primeiro bimestre e avançaram 20,5% para a Ásia (excluídos China e Oriente Médio).
Fonte: IPESI
Seção: Indústria & Economia
Publicação: 26/08/2024