Indústria do aço projeta investir R$ 100 bi até 2028 – a despeito do consumo estagnado

Indústria do aço projeta investir R$ 100 bi até 2028 – a despeito do consumo estagnado

Com a expectativa de aumento das vendas no mercado interno, reflexo da medida do governo para conter as importações e retomada da construção imobiliária e das obras de infraestrutura, a indústria siderúrgica instalada no Brasil prevê investimentos da ordem de R$ 100,2 bilhões até 2028, segundo a entidade Instituto Aço Brasil. Uma das maiores empresas do setor, a ArcelorMittal responde por um quarto dessa previsão. Gerdau revela que irá aplicar R$ 6 bilhões em expansão até 2026.

A indústria brasileira de aço é a nona produtora do mundo, produzindo cerca de 32 milhões de toneladas por ano e com a geração de 122 mil empregos em suas 31 usinas espalhadas pelo Brasil, sendo 15 integradas e 16 semi-integradas, administradas por 11 grupos empresariais. O faturamento líquido do setor atingiu, em 2023, R$ 173,3 bilhões.

 

Mas os executivos do setor acreditam que a produção brasileira poderia ser bem maior, uma vez que a capacidade instalada da indústria é de 51 milhões de toneladas por ano. Dois fatores não permitem que a produção deslanche, segundo eles: o consumo per capita brasileiro, que está há alguns anos estagnado em 110 kg/habitante/ano, menos da metade do consumo mundial (230 kg/habitante/ano) e muito abaixo do chinês (630 kg/hab/ano), reflexo do baixo crescimento da economia na década recente;  e a ‘invasão’ do aço importado no mercado brasileiro, especialmente oriundo da China, maior produtor mundial.

O consumo per capita está diretamente relacionado ao crescimento do País. Com a retomada da economia e o aumento da demanda da construção civil, esse consumo deverá melhorar. Mas uma expansão sólida da siderurgia depende da articulação de programas de desenvolvimento de médio prazo—algo raro de se ouvir falar nas gestões federais recentes.  Durante a 34ª edição do Congresso Aço Brasil, realizado no início de agosto em São Paulo, os CEOs das maiores empresas do setor comentaram sobre as perspectivas do setor.

Jefferson de Paula, presidente da ArcelorMittal Brasil, destacou no evento que há uma perspectiva de melhora na demanda da construção civil, que deve crescer até 2,5% no segundo semestre, além da retomada das obras de infraestrutura. Ele lembrou que há cerca de 16 mil obras paradas pela metade no Brasil. “Este ano não vai ser brilhante, mas será melhor do que 2023”, afirmou. Já com relação a 2025, ele acredita que o consumo aparente deve crescer 2%, bem como o PIB. “Vamos andar de lado, será mais ou menos como em 2024”, concluiu.

Em relação à concorrência com o produto chinês, classificada de predatória pelos fabricantes de aço brasileiros, o setor obteve uma medida do governo que estipula cotas de importação de produtos siderúrgicos. O sistema prevê uma tarifa de 25% sobre o volume excedente ao longo de um ano, iniciado em junho deste ano. “É um sistema novo, acreditamos que iremos moralizar as importações. A farra do boi de 2023, com aço entrando sem qualquer controle e a preços predatórios acabou”, salientou Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Instituto Aço Brasil. A medida já mostrou efeito prático: as importações recuaram 23% nos meses de maio e junho em relação ao mesmo período do ano passado.

Empresas confirmam investimentos

O presidente da ArcelorMittal confirmou durante o congresso o investimento anunciado de R$ 25 bilhões, voltado para ampliações de suas plantas, atualização tecnológica e parceria para energia renovável. Segundo a empresa, os aportes aumentarão sua participação de mercado por meio do crescimento de capacidade e produção de novos aços de alto valor agregado para consumo interno e exportação.

Um dos aportes em andamento, de R$ 4,2 bilhões, é a construção do parque eólico Babilônia Centro, em parceria com a Casa dos Ventos, em Várzea Nova, na Bahia. O complexo terá capacidade de produção de 553 MW para suprir com energia limpa aproximadamente 40% do consumo das unidades da ArcelorMittal no País. A meta da empresa é ser carbono neutro até 2050, sendo que até 2030 pretende reduzir suas emissões em 25%. Para isso, atua para abastecer todas as unidades com 100% de energia limpa – 2023 fechou com 61% de autogeração e 39% de compra de energia elétrica de matriz de geração limpa.

A aquisição da Unidade do Pecém, no Ceará, que consumiu R$ 11,2 bilhões do plano, foi concluída em março do ano passado e se mostrou estratégica, segundo a empresa. A produtora de placas alcançou, em 2023, recorde de produção de 3 milhões de toneladas produzidas, integrada logisticamente a um porto competitivo para abastecer outras unidades de produção do grupo no mundo e clientes internos.

Compõe o plano de investimentos a expansão da sinterização, alto-forno e aciaria da Unidade Monlevade, localizada em João Monlevade (MG), que vai aumentar a capacidade de produção anual de 1,2 milhão de toneladas para 2,2 Mt. Serão investidos R$ 4 bilhões nessa fábrica. Já a Unidade Veja, instalada em São Francisco do Sul (SC), receberá aportes de R$ 1,9 bilhão para iniciar uma nova linha combinada de produção de aços laminados a frio e revestidos. A produção saltará de 1,6Mt para 2,2Mt.

Será aplicado R$ 1,3 bilhão na fábrica de Barra Mansa (RJ), que terá alta de  500 mil toneladas na capacidade anual de produção e ampliação do portfólio, com produtos voltados para os mercados automotivo, construção civil e de energia. Nesse segmento, a empresa investirá também R$ 144 milhões na planta de Sabará (MG), para aumentar em 35% a produção de trefilados, adaptando a fábrica para produtos de alto valor agregado para a indústria automotiva.

Na Mina de Serra Azul, localizada em Itatiaiuçu (MG), a ArcelorMittal investirá R$ 2 bilhões em uma nova planta de pellet feed, aumentando a capacidade produtiva de 1,6Mt para 4,5Mt. Já a Mina do Andrade, que fornece minério para a fábrica Monlevade, terá sua produção expandida de 1,5Mt para 3,5Mt.

De acordo com Jefferson de Paula, o programa de investimentos montado pela empresa indica que o País é estratégico para o Grupo ArcelorMittal. “O Brasil tem recursos naturais abundantes, 215 milhões de habitantes, um potencial muito grande. É por isso que o grupo acredita nas operações brasileiras, uma das de melhor desempenho no mundo. Estamos em 60 países, dos quais 15 temos fábricas. A operação brasileira é benchmark global”, frisou.

Um dos maiores produtores de aço do mundo, a empresa tem cerca de 127 mil empregados, sendo 20 mil no Brasil. Opera unidades industriais em oito Estados (MG, ES, RJ, SC, CE, BA, SP e MS), além de extensa rede de distribuição pelo País. As plantas brasileiras têm capacidade de produção anual de 15,5 milhões de toneladas de aço bruto e as minas produzem 5,1 milhões de toneladas de minério de ferro.  A companhia atua, ainda, em geração de energia para consumo próprio, produção de biorredutor renovável (carvão vegetal a partir de florestas plantadas de eucalipto) e tecnologia da informação.

 

Mina de Miguel Burnier terá aporte de R$3,2 bi

Já a Gerdau revelou, em nota, que o novo plano de investimentos da companhia está estimado no valor de R$ 6 bilhões, contemplando projetos Capex voltados à manutenção, expansão e atualização tecnológica de suas operações. Do total previsto para este ano, os investimentos que apresentam retornos ambientais superam R$ 790 milhões.

Entre eles, está um aporte de R$ 3,2 bilhões em uma nova plataforma de mineração em Minas Gerais. O montante segue o ciclo de investimentos realizado no Estado nos últimos anos e que vai até 2026, para modernização, atualização tecnológica, aprimoramento de práticas ambientais e ampliação de suas operações locais.

A nova capacidade anual de produção de minério de ferro da empresa na mina de Miguel Burnier, distrito de Ouro Preto (MG), de 5,5 milhões de toneladas, está prevista para entrar em operação no final de 2025. O projeto permitirá à empresa aumentar a competitividade de suas operações e ampliar futuramente sua produção de aço em Minas Gerais.


China indica mais estímulos econômicos para 2025 – e o Brasil pode ganhar com isso
Chineses dizem que deverão afrouxar política monetária para estimular o consumo e ajudar o setor imobiliário

A China sinalizou nesta segunda-feira (9) que irá avançar em seu pacote de estímulos econômicos a partir do ano que vem, enquanto Pequim se prepara para uma guerra comercial quando Donald Trump assumir o cargo.

O Politburo, órgão que reúne a nata do Partido Comunista Chinês (PCC) e é responsável pelas decisões mais estratégicas do Estado, afirmou que irá indicar ao presidente Xi Jinping uma política monetária “moderadamente flexível” em 2025, de acordo com a agência oficial de notícias Xinhua, sinalizando mais cortes nas taxas no futuro e mudando uma estratégia “prudente” mantida por quase 14 anos.

O grupo também prometeu uma política fiscal “mais proativa” em sua reunião mensal, aumentando as expectativas de que Pequim amplie o déficit fiscal. Isso abriria a porta para mais empréstimos do governo central para sustentar a economia vacilante.

A reunião de dezembro do Politburo “enviou o tom de estímulo mais agressivo em uma década”, escreveram economistas do Morgan Stanley, incluindo Robin Xing, em uma nota de pesquisa, acrescentando que “embora o tom seja muito positivo, a implementação permanece incerta”.  

O Politburo também prometeu impulsionar o consumo, estabilizar os mercados imobiliário e de ações e, pela primeira vez, prometeu ajustes políticos anticíclicos “extraordinários” — o Partido Comunista fala em ferramentas mais incomuns para impulsionar a economia. 

Ao indicar maior foco no consumo e estabilização do mercado imobiliário, as medidas poderão gerar um efeito positivo para as commodities brasileiras — minério de ferro, soja e carnes — uma vez que a China é a maior consumidora dos principais itens de exportação do Brasil.

“A formulação desta declaração da reunião do Politburo não tem precedentes”, disse Zhaopeng Xing, estrategista sênior do Australia & New Zealand Banking Group. “O tom da política mostra forte confiança contra as ameaças de Trump”, ele observou, referindo-se à promessa do presidente eleito dos EUA de impor uma tarifa de 60% sobre as exportações chinesas que dizimariam o comércio bilateral. 

Mudança de política

A última vez que a China adotou uma política monetária “moderadamente frouxa” foi na Crise Financeira Global de 2008, como parte de um pacote de estímulo bazuca para sustentar a economia. Isso é algo que Pequim prometeu evitar repetir.

Mas o comunicado do Politburo, no entanto, enviou aos mercados uma mensagem de que Xi está sentindo uma nova urgência em apoiar o crescimento. É um lembrete de que “a visão dos principais líderes sobre as condições econômicas mudou substancialmente em comparação ao último trimestre”, disse Martin Rasmussen, estrategista sênior da empresa de pesquisa macro Exante Data.

Após o crescimento do segundo trimestre ter ficado aquém, as autoridades começaram a implementar estímulos no final de setembro. Economistas esperam amplamente outro corte no compulsório dos bancos até o fim do ano, enquanto um ajuste de taxa de juros tem mais probabilidade de ocorrer no primeiro trimestre de 2025.

Os formuladores de políticas também precisarão encontrar remédios para a mais longa sequência de deflação da China neste século. Esse problema foi exibido mais cedo na segunda-feira em dados mostrando os preços ao produtor caindo em novembro pelo 26º mês consecutivo. Os preços ao consumidor também subiram no ritmo mais lento em cinco meses, pairando em torno de zero. 

A queda dos preços prejudicou o crescimento de 4,8% da economia até agora neste ano, corroendo os lucros corporativos e forçando as empresas a cortar investimentos, bem como salários. Enquanto o Banco Popular da China cortou as taxas de juros e ofereceu mais dinheiro para os bancos várias vezes, as autoridades acharam difícil estimular maiores gastos.

O Politburo prometeu “aumentar o consumo à força” e impulsionar a demanda doméstica “em todos os aspectos”, sem mencionar diretamente a deflação. Isso pode indicar mais rodadas do programa de dinheiro por sucata que é operado como um vale-consumo, encorajando as pessoas a comprar novos eletrônicos com desconto em troca de seus produtos antigos.

Efeito no Brasil

Na onda dos anúncios da China, os contratos futuros do minério de ferro se recuperaram nesta segunda-feira, encerrando uma trajetória de duas sessões de queda. Ao meio-dia, havia quatro mineradoras e siderúrgicas brasileiras entre as maiores altas do Ibovespa: CSN avançava 5,56%; CSN Mineração, 5,34%; Usiminas, 3,68%; e Vale, 3,19%.

O contrato de janeiro do minério de ferro mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE) da China encerrou as negociações do dia com alta de 1,57%, a 808,5 iuanes (US$ 111,12) a tonelada.

O minério de ferro de referência para janeiro na Bolsa de Cingapura subiu 1,05%, a US$ 104,4 a tonelada.

Os preços do minério de ferro ficaram sustentados acima de US$ 100 por tonelada devido às expectativas de mais anúncios de estímulo da Conferência Central de Trabalho Econômico de Pequim, programada para 11 e 12 de dezembro, disseram os analistas do Westpac.

“As recentes medidas de estímulo chinesas reanimaram a demanda por aço e, portanto, por minério de ferro, já que as vendas de imóveis estão mostrando alguns sinais de melhora”, disseram os analistas do ANZ.

Os estoques do ingrediente de fabricação de aço caíram na semana passada para o nível mais baixo desde agosto, disseram eles.

Fonte: Infomet
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 10/12/2024