Brasil tentará reverter tarifaço de Trump sobre aço e alumínio até março

Brasil tentará reverter tarifaço de Trump sobre aço e alumínio até março

A decisão do governo brasileiro de evitar qualquer conflito com o presidente americano Donald Trump sobre o tarifaço anunciado sobre o aço e o alumínio passa por um prazo de negociação, já calculado pelo Palácio do Planalto, para tentar reverter a situação. As tarifas de 25% sobre as importações desses produtos impostas pelos Estados Unidos entrarão em vigor em 12 de março de 2025, ou seja, daqui a um mês.

Segundo a Folha de S. Paulo, a cúpula do governo brasileiro acredita que esse tempo será suficiente para que, por meio de suas representações diplomáticas, se encontre uma alternativa que permita manter o cenário de cotas de exportação, vigentes desde 2018, isentando o Brasil da cobrança extra. Esse período de negociações está alinhado com as entidades de classe empresarial, que agora darão início à fase de discussões com o apoio da representação oficial do governo. O foco é, por ora, evitar qualquer movimentação que afete a indústria nacional ou que possa resultar em uma guerra comercial entre os dois países.

Ainda conforme a reportagem, um integrante do alto escalão do governo apontou, em comentários feitos sob reserva, que Trump já anunciou diversas decisões em seu mandato para, em seguida, revisá-las. Esse mesmo auxiliar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) destacou que as medidas tomadas pelo americano afetam vários países, o que reforça a confiança brasileira em um diálogo construtivo. A estratégia do governo é, portanto, buscar alternativas diplomáticas, visto que o presidente Trump "reage mal ao enfrentamento", como disse um ministro, que enfatizou a necessidade de cautela.

Em declarações feitas nesta terça-feira (11), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também reforçou que a decisão dos Estados Unidos é "genérica, para todo mundo". No entanto, ele destacou que "medidas unilaterais desse tipo são contraproducentes para a melhoria da economia global".

O movimento do governo brasileiro é calculado em conjunto com as principais empresas do setor, que, embora evitem declarações pontuais, concentram seus posicionamentos por meio das suas associações. Dez companhias procuradas pela Folha nos últimos dias informaram que preferem não se manifestar até que o cenário se esclareça. A Associação Brasileira do Alumínio (Abal) declarou preocupação com os impactos da nova medida tarifária, que não contempla exceções ou isenções para nenhum país. Embora a participação do Brasil nas importações americanas de alumínio seja relativamente pequena, os Estados Unidos são um parceiro comercial importante, respondendo por 16,8% das exportações brasileiras do metal, conforme a associação.

De acordo com a Abal, o mercado americano movimentou US$ 267 milhões do total de US$ 1,5 bilhão exportados pelo setor em 2024. Em termos de volume, os Estados Unidos foram o destino de 13,5% das exportações brasileiras de alumínio. A associação enfatizou a importância de manter o diálogo com o governo brasileiro para mitigar os impactos da medida e evitar rupturas no fornecimento de produtos e materiais essenciais para a economia nacional.

O Instituto Aço Brasil, que representa as siderúrgicas brasileiras, também se manifestou sobre a surpresa com o anúncio de Trump e refutou a justificativa apresentada pelo presidente americano de que o Brasil estaria importando grandes quantidades de aço chinês para enviá-lo aos Estados Unidos. Esse argumento foi incluído em um documento assinado por Trump e divulgado na segunda-feira. A decisão do presidente estadunidense também terá efeitos colaterais no Brasil, como a redução das compras de carvão metalúrgico dos Estados Unidos, essencial para a produção de aço no Brasil, que é utilizado nas siderúrgicas brasileiras.

O carvão metalúrgico, também conhecido como carvão coqueificável, é um insumo essencial para o processo de produção de aço realizado pelos altos-fornos das siderúrgicas. O Brasil, que possui produção limitada desse material, importa a maior parte do carvão usado na fabricação do aço. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços informou que, no ano passado, foram gastos US$ 1,4 bilhão com as importações desse produto dos Estados Unidos, totalizando mais de US$ 6,2 bilhões nos últimos cinco anos.

Além disso, a intenção de Trump de proteger os fabricantes americanos de aço e alumínio pode resultar em aumento no preço de produtos finais nos Estados Unidos, como eletrodomésticos, máquinas e carros. Isso ocorre porque as tarifas sobre os materiais importados, que são vendidos a preços mais baratos, naturalmente elevam o custo desses produtos, refletindo no bolso do consumidor americano.

Até 2018, as importações de aço e alumínio pelos Estados Unidos eram mais flexíveis, com menores barreiras tarifárias, de acordo com as normas da Organização Mundial do Comércio (OMC). No entanto, em março de 2018, Trump impôs tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio, com base na "Seção 232" do Trade Expansion Act, de 1962, que permite a imposição de tarifas quando produtos importados representam uma ameaça à segurança nacional dos Estados Unidos.

Inicialmente, a medida afetava todos os países, mas o Brasil, Argentina e Coreia do Sul conseguiram acordos para evitar as tarifas plenas. O Brasil, por exemplo, aceitou cotas de exportação, limitando os volumes de aço exportados sem tarifas adicionais. Embora as regras tenham sido mantidas durante o governo de Joe Biden, agora estão sendo revisadas novamente por Trump.

Na época, os Estados Unidos e o Brasil acordaram cotas de exportação de 3,5 milhões de toneladas de semiacabados e placas, e 687 mil toneladas de laminados. Esse regime foi mantido, com o Brasil exportando aço para os Estados Unidos dentro dos limites estabelecidos. Em 2024, os Estados Unidos importaram 5,6 milhões de toneladas de placas, das quais 3,4 milhões de toneladas vieram do Brasil, cumprindo as condições do regime de "hard quota", conforme dados do Instituto Aço Brasil.

Fonte: Brasil 247
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 13/02/2025