Brasil tem o desafio de criar uma política para a produção de minerais estratégicos

Brasil tem o desafio de criar uma política para a produção de minerais estratégicos

O Brasil precisa criar uma política para os chamados minerais estratégicos, defende o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), que reúne as grandes, médias e pequenas companhias de mineração que atuam no país.

São considerados nessa categoria os metais e minerais que têm um papel fundamental na transição para um futuro de economia de baixo carbono. São bens cruciais na forma como a energia é gerada, transportada, armazenada e utilizada. Por exemplo, um carro elétrico requer seis vezes mais insumos minerais do que um carro convencional, afirmam especialistas.

Segundo estimativas da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), a demanda por lítio deve crescer 40 vezes até 2040, e a demanda por cobalto, grafite e níquel entre 20 e 25 vezes até o mesmo ano.

Além do lítio, cuja primeira mina do metal voltada para processar material para baterias de veículos elétricos deve entrar em operação até abril, Raul Jungmann, presidente do Ibram, apontou em entrevista ao Valor que o país dispõe de reservas de nióbio, tântalo, magnésio, grafite, terras raras, entre outros minerais.

O Brasil dispõe ainda de reservas de níquel, bauxita (alumínio), cobre e de manganês, minerais que também se encaixam nesse nicho, que cada vez ganha mais importância global devido à eletromobilidade e a transformação verde.

Segundo o executivo, não há condições de se caminhar para uma emissão neutra de dióxido de carbono (CO2) sem os minerais estratégicos. “É importante que o Brasil tenha uma política para essa categoria de bens”.

No nióbio, a CBMM, em Araxá (MG), vem trabalhando no desenvolvimento há alguns anos de material (placas de ânodo e cátodo) para utilização na fabricação de baterias elétricas para automóveis e outros tipos de veículos automotrizes elétricas.

A mineradora já tem acordos com a japonesa Toshiba e outras empresas envolvidas com projetos de mobilidade elétrica. Cerca de 35% da receita da empresa, no final da década, deverá vir dessa nova frente de negócio.

No norte de Minas, está em fase final de implantação, pela Sigma Lithium Corporation, o primeiro projeto de extração e beneficiamento do lítio em concentrado (carbonato) do país de grau bateria. É um investimento de R$ 2 bilhões em três fases. Ao final de 2024, projeta-se uma capacidade instalada de 104,2 mil toneladas de carbonato de lítio contido em concentrado por ano. A mina e as instalações industriais ficam nos municípios de Araçuaí e Itinga.

O presidente do Ibram ressalta que é prioritário uma diversificação dos bens minerais produzidos pelo país, tanto por categoria quanto geograficamente. A ampliação dos estratégicos vai ao encontro dessa diversificação.

Hoje, o minério de ferro domina a produção mineral brasileira, com pouco mais de 61%. É o principal item da pauta de exportação no setor mineral do país — 73% do total. Minério de ferro, ouro e cobre respondem por três quartos do valor da produção brasileira de metais e minerais.

Por Estados, Minas Gerais fica com 40% do valor da produção do país, seguido de perto pelo Pará, com 37%. Depois, bem abaixo, vêm Bahia (4,1%), Goiás (3,6%), São Paulo (3,1%), Mato Grosso (2,7%), Mato Grosso do Sul (1,2%) e Santa Catarina, com 1%. Há reservas pouco dimensionadas em outros estados que podem ser desenvolvidas para produção.

Os minerais estratégicos, e os chamados críticos, são bens dos quais um país depende de importação em alto percentual para o suprimento de setores vitais da economia; que tenham importância por aplicações em produtos e processos de alta tecnologia; ou que tenham vantagens comparativas e que sejam essenciais para a economia, gerando superávit da balança comercial.

Jungmann ressalta ainda que minerais para a indústria de fertilizantes também deveriam ter uma política específica para elevar a produção local e depender menos de importações. Ele cita as rochas fosfática e potássica e as de calcio-magnésio.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 16/01/2023