Brasil tem forte potencial para ser base de hidrogênio verde e combustíveis sintéticos

Brasil tem forte potencial para ser base de hidrogênio verde e combustíveis sintéticos

Os carros de célula a combustível já são uma realidade no mundo. Após cerca de 25 anos, tempo necessário para que uma nova tecnologia saia da pesquisa e se estabeleça no mercado, a indústria de componentes das tecnologias do hidrogênio e célula a combustível se desenvolveu, cresceu e se consolidou. E há muitas oportunidades para o Brasil, contou a mentora da mobilidade a hidrogênio da SAE Brasil, Mônica Saraiva Panik, durante o painel As Novas Perspectivas da Indústria de Automóveis durante o Seminário Megatendências 2023 – O Novo Brasil, organizado pela AutoData Editora.

Uma pesquisa feita pelo PNUD, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, no Panamá indicou que em 2021 havia mais de 51 mil veículos movidos a célula a combustível rodando pelo mundo, liderados pela Coreia do Sul, Estados Unidos e China. Em pesados, a China é a que mais tem caminhões, depois Suíça, por causa das isenções de pedágios, e Estados Unidos.

O etanol, por sua vez, é uma excelente fonte renovável para a produção de hidrogênio, abrindo novas oportunidades de negócios para o setor sucroalcoleiro.

“Em uma usina de álcool e açúcar ou em uma biorrefinaria pode-se produzir hidrogênio verde ou de baixo carbono de diversas formas: reforma termoquímica do etanol, da qual a Hytron, do Grupo Neuman&Esser, já tem desenvolvimento pronto para comercialização, utilizando resíduos de biomassa no processo de gasificação, o qual gera hidrogênio e gás de síntese. Pode-se, também, utilizar a reforma do biogás produzido com resíduos de biomassa e também utilizando o processo de eletrólise da água com a eletricidade cogerada nas usinas a partir de resíduos de biomassa.”

Adicionalmente o etanol pode ser um excelente combustível líquido renovável que pode transportar hidrogênio para os mercados importadores como a Europa, e lá fazer a reforma para obter o hidrogênio que será distribuído por meio de gasodutos em todo o continente.

Com a guerra da Ucrânia, indisponibilidade e altos custos do gás natural, países como a Alemanha estão analisando a substituição do gás natural pelo hidrogênio nos gasodutos existentes, para uso na geração de energia principalmente para a indústria.

“As localidades onde estão as usinas e as biorrefinarias emitem o CO2 biológico ou natural, que é o tipo mais desejado no mundo para produção de combustíveis sintéticos como o metanol verde, a gasolina verde e o querosene verde. A produção desse tipo de combustível em um país como o Brasil, com imenso potencial de energias renováveis, representa um tesouro ainda não explorado.”

Ela conta que a Porsche, por exemplo, importará metanol verde e gasolina verde produzida na Patagônia chilena. O Brasil também possui todos recursos e localidades para sediar esse tipo de projeto chamado Power to X.

O Brasil pode se tornar não só protagonista mas, também, um centro de referência em sustentabilidade caso consiga conter o desmatamento e recuperar as áreas degradadas na Amazônia, privilegiando a geração e o uso de energias renováveis e reindustrializando o parque nacional.

Panik citou que o programa MiBi, Made in Brasil Integrado, possui um grupo dedicado às tecnologias do hidrogênio e células a combustível.

“Estamos trabalhando no âmbito da SAE Brasil em parceria com o Sindipeças para levar informação às empresas brasileiras potenciais fornecedoras de componentes, sistemas e equipamentos para eletrolisadores e células a combustível. A nacionalização das tecnologias é o caminho para a reindustrialização, de forma a agregar valor na manufatura e capacitar a engenharia nacional para a economia verde.”

Em sua análise o hidrogênio verde/renovável se tornará competitivo mais cedo em países como a China, graças aos eletrolisadores de baixo custo, e Brasil e Índia, com energias renováveis baratas e preços de gás relativamente altos. A fabricação de equipamentos para fábricas de H2 renovável/verde representa uma excelente oportunidade de mercado nos próximos anos e décadas.

A cadeia de valor do hidrogênio é extensa e as estimativas apontam para um potencial de mercado de US$ 50 bilhões a US$ 60 bilhões para eletrolisadores e um mercado de US$ 21 bilhões a US$ 25 bilhões para células a combustível em meados do século.

“A inovação e as tecnologias emergentes podem mudar o cenário atual da manufatura. O Brasil tem um imenso parque industrial automotivo, no qual a maioria das empresas líderes do setor do hidrogênio possuem subsidiárias. Portanto é preciso atrair essas novas linhas de produção de componentes e equipamentos. Se o Brasil não criar um cenário atrativo esses investimentos serão direcionados para outros países e perderemos a oportunidade de ser um protagonista na nova economia da transição energética.”

Para ela o uso do etanol para a produção de hidrogênio pode acelerar a introdução das células a combustível para aplicação automotiva no País porque a curto e médio prazos já seria possível instalar reformadores de etanol em postos de combustíveis e abastecer os veículos com o hidrogênio produzido.

“Já os reformadores embarcados ou de sistemas SOFC, células a combustível de alta temperatura, como o protótipo da Nissan, lançado em 2016, será preciso investir mais em pesquisa e desenvolvimento para obter um sistema que atenda à dinâmica veicular a custos competitivos e sem emissões.”

Fonte: Autodata
Seção: Energia, Óleo & Gás
Publicação: 27/03/2023