Brasil pode exportar hidrogênio verde na forma de aço

Brasil pode exportar hidrogênio verde na forma de aço

Estudo do think tank de energia alemão Agora divulgado nesta quinta (15/6) afirma que é possível, tecnicamente, chegar a emissões líquidas zero na siderurgia ainda na década de 2040 e o segredo está no hidrogênio verde.

Ao lado de investimentos em eficiência no uso dos materiais, aumento da reciclagem, aplicação da bioenergia e de soluções de captura e armazenamento de carbono, a substituição do carvão por hidrogênio verde tem condições de alinhar a indústria de aço às metas globais de limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C.

Mais do que isso: abre uma janela de oportunidade para exportadores de ferro se converterem em fornecedores de commodities verdes. O Brasil é um deles.

Segundo maior exportador de minério de ferro, o Brasil (22%) fica atrás apenas da Austrália (53%) e está em posição de vantagem em relação aos outros três fornecedores internacionais mais relevantes: África do Sul (4%); Canadá (3%) e Ucrânia (3%).

O estudo (.pdf) destaca o país sulamericano como o com maior capacidade de produção de hidrogênio verde, dada a alta renovabilidade de sua matriz elétrica e o potencial de crescimento da capacidade solar e eólica.

A recomendação do think tank é que, em vez de tentar exportar combustível, países como o Brasil deveriam se preparar para investir em “hidrogênio incorporado” na forma de ferro e aço verdes.

“As exportações de ferro verde proporcionarão novas oportunidades aos países que planejam exportar hidrogênio renovável ou de baixo carbono, criando mais empregos no mercado interno e permitindo que os países capturem uma parte adicional de valor agregado da cadeia de valor da siderurgia”, explica o relatório.

Essa virada de chave para o comércio internacional de produtos com maior valor agregado poderia alavancar em 18% o valor das exportações e em 16% o mercado de trabalho local, mostra a análise.

Corredores logísticos

O comércio de ferro verde também tem potencial de reduzir os custos da transformação global do aço, uma vez que o transporte de hidrogênio incorporado como ferro verde será significativamente mais barato do que o transporte de hidrogênio e seus derivados por navio.

Para impulsionar este cenário, os analistas da Agora recomendam a construção de parcerias entre exportadores e importadores. A Austrália já está trabalhando neste sentido.

Corredores logísticos. Em abril do ano passado, um consórcio formado pelo Fórum Marítimo Global, BHP, Rio Tinto, Oldendorff Carriers e Star Bulk Carriers firmou um acordo para avaliar a criação de um corredor verde de minério de ferro entre a Austrália e o Leste da Ásia.

O objetivo é mobilizar a demanda por transporte verde e escalar o frete de zero ou quase zero emissão de gases de efeito estufa. A amônia verde (derivada de hidrogênio) desponta como a escolha provável de combustível.

A Austrália é o maior exportador de minério de ferro do mundo e embarcou 872 milhões de toneladas em 2021.

Demanda ultrapassará oferta

Análise da  McKinsey indica que a demanda de aço verde provavelmente ultrapassará a oferta, com a projeção de crescimento significativo de projetos de energia renovável na Europa e nos Estados Unidos.

A expectativa é que a demanda global por aço com baixo teor de CO2 cresça dez vezes na próxima década, de aproximadamente 15 milhões de toneladas em 2021 para mais de 200 milhões de toneladas até 2030 – representando mais de 10% da demanda total de aço. Em 2040, deve chegar a 25% da demanda.

Com o mercado aquecido, os prêmios verdes podem chegar a US$ 200-US$ 350 por tonelada até 2025 e US$ 300-US$ 500/tonelada de 2025 a 2030, calcula a McKinsey.


Fonte: EPBR
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 16/06/2023