BHP alerta para desaceleração mundial em meio a aperto de política monetária

BHP alerta para desaceleração mundial em meio a aperto de política monetária

 A ameaça de uma recessão e o temor quanto a seu impacto na demanda têm assolado os preços das matérias-primas nos últimos meses A BHP, maior empresa de recursos naturais do mundo, prevê ventos contrários à economia ao longo dos próximos 12 meses e advertiu que a forte queda na cotação das commodities está obscurecendo o panorama das maiores mineradoras do mundo.

Embora projete que a China, seu maior cliente, terá crescimento graças a políticas de estímulo econômico, a mineradora australiana prevê que a crise energética na Europa, a guerra na Ucrânia e as políticas monetárias contracionistas resultarão em uma “desaceleração geral no crescimento mundial”.

“A volatilidade do mercado como um todo continua e prevemos que o efeito retardado das pressões inflacionárias continuará ao longo do ano fiscal de 2023, juntamente com a escassez no mercado de trabalho e as restrições na cadeia de suprimentos”, destacou o executivo-chefe Mike Henry, em uma atualização sobre o desempenho da mineradora divulgada nesta terça-feira.

Os comentários de Henry seguem a mesma linha das observações feitas na semana passada pela rival Rio Tinto, que também fez um alerta sobre ventos contrários “consideráveis” e o crescente temor de recessão, que afeta os preços das commodities.

A ameaça de uma recessão e o temor quanto a seu impacto na demanda têm assolado os preços das matérias-primas nos últimos meses. Recentemente, o minério de ferro, a maior fonte de lucro da BHP e da Rio Tinto, caiu para menos US$ 100 por tonelada pela primeira vez no ano, enquanto o cobre caiu ao menor patamar em 20 meses, abaixo de US$ 7 mil por tonelada, na semana passada.

Isso pesou nos preços das ações de todo o setor, com os papéis da BHP e da Rio Tinto caindo mais de 20% em relação ao pico de junho.

A atualização divulgada nesta terça-feira mostrou um bom desempenho da BHP com o cobre e o carvão, que foi neutralizado pelos resultados decepcionantes em outros metais, como o minério de ferro.

A BHP informou que produziu 253,2 milhões de toneladas de minério de ferro no ano até junho, repetindo o desempenho do ano anterior, e prevê extrair entre 249 milhões e 260 milhões de toneladas do ingrediente usado na produção do aço no próximo ano fiscal, projeção que decepcionou alguns analistas.

Tyler Broda, analista da RBC Capital disse que a projeção “branda” para a produção no exercício de 2023 “tiraria o brilho” de um ano fiscal monumental para a BHP, no qual ela desmembrou suas operações de petróleo e gás por meio de uma fusão com a Woodside e unificou sua estrutura de ações.

A BHP também vendeu sua participação de 80% na BHP Mitsui Coal, que opera as minas de carvão de coque de South Walker Creek e Poitrel, em Queensland, por US$ 1,35 bilhão.

A empresa comunicou nesta terça-feira que reavaliaria as operações que ainda possui em Queensland, após a introdução de um novo imposto de royalties, de três alíquotas, no Estado neste mês.

O imposto descontentou a indústria de mineração, que não foi consultada sobre a decisão do governo de Queensland de aproveitar os altos preços do carvão para dar um impulso aos gastos públicos na região.

A medida também foi criticada pelo embaixador do Japão na Austrália, que em rara intervenção política disse neste mês que o investimento no país pode ser afetado pelo imposto. As empresas japonesas Mitsubishi e Mitsui têm operações no estado.

A BHP já vendeu a maior parte de suas operações de carvão térmico, usado para gerar eletricidade, mas manteve seus ativos de carvão de coque, que abastecem as siderúrgicas.

“A quase triplicação da alíquota mais alta dos royalties piorou o que já era um dos esquemas mais altos de royalties de carvão do mundo, ameaçando investimentos e empregos no Estado”, disse Henry.

Fonte: Financial Times
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 20/07/2022