Atualmente a China exporta o equivalente a três vezes a produção total de aço do Brasil

Atualmente a China exporta o equivalente a três vezes a produção total de aço do Brasil

A adoção de um sistema de cotas de importação de aço com tarifa de 25% sobre o volume excedente, ao longo de um ano a partir de junho, conseguiu frear a escalada das importações chinesas, mas não surtiu o efeito esperado de reduzir a entrada de produtos siderúrgicos no mercado brasileiro, disse o presidente executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes.

Não conseguir o efeito esperado, segundo ele, deve-se, em parte, ao fato de a indústria chinesa reduzir expressivamente os preços a cada nova tarifa imposta. Em coletiva de imprensa do Instituto nesta segunda-feira (16), Marco Polo de Mello Lopes mostrou que a tonelada do aço, exportada da China, registrou uma redução de 13,3% do preço em 2024.

Para Lopes, essa é a comprovação de uma política de estado da potência chinesa, com objetivo de ocupar 30% da produção industrial do mundo em uma década. Ele espera uma renovação do sistema cota-tarifa em maio do próximo ano, com uma revisão da cota de importação, que considera ter sido calculada de forma generosa pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic).

“Nós queremos renovar o sistema, talvez com uma cota mais realista, com a inclusão de produtos, e, a partir de maio do ano que vem, fazer um sistema mais robusto, com uma mais perto do que seria a realidade”, disse.

O setor estuda processos comerciais, como medidas antidumping e salvaguardas, para tentar reequilibrar a competição com o aço chinês. Hoje, a China exporta o equivalente a três vezes a produção total de aço do Brasil.

“Eu brinco que tem que chamar a cavalaria para entrar nessa guerra com tudo, para poder fazer com que o jogo seja equilibrado”, declarou o presidente-executivo do Instituto Aço Brasil.

Ele apontou a necessidade de uma fiscalização maior sobre as NCMs – nomenclaturas comuns do Mercosul para descrever os produtos que possam ser utilizadas como uma espécie de fuga da taxação.

“Nós temos tido uma conversa – que nunca tivemos – muito apropriada com a Receita Federal e com a Secex (Secretária de Comércio Exterior), para poder identificar essas informações”, afirmou Lopes. “Tenho a expectativa de que, com esse conjunto, voltado para fiscalização, a adequação de cotas mais realista, a gente pode enfrentar melhor esse desafio das importações”, completa.

Setor prevê queda na produção de aço em 2025

Com base nos dados até novembro, o Instituto Aço Brasil estima que a produção do setor deve:

fechar o ano com 33,8 milhões de toneladas, crescimento de 5,5% em relação a 2023
as vendas internas chegarão a 21,2 milhões de toneladas, um aumento de 8,4%
as exportações devem fechar 2024 em queda de 15,2%, em torno de 9,9 milhões de toneladas
por fim, o consumo aparente terá alta de 9,6%, com 26,3 milhões de toneladas

Durante a coletiva, Marco Polo de Mello Lopes lamentou que o desempenho poderia ser ainda maior, não fosse a competição com a importação de aço da China. “É lamentável que poderia ter sido muito melhor, se 20% desse nosso mercado das vendas não tivesse sido ocupada por essas importações predatórias”, ressaltou.

Já em relação ao próximo ano, o Instituto Aço Brasil prevê uma queda de 0,6% na produção, para 33,6 milhões de toneladas. A entidade também espera uma redução de 0,8% nas vendas internas, para 21 milhões de toneladas.

Por outro lado, o setor espera uma alta de 2,2% nas exportações de aço do País, para 2,3 milhões de toneladas, e aumento de 11,5% nas importações de laminados, com 5,6 milhões de toneladas. Segundo o Instituto, em 2025, o consumo aparente no período deve variar 1,5%, para 26,7 milhões de toneladas.

Fonte: Diário do Comércio
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 17/12/2024