Análise: Um aceno tímido do governo às siderúrgicas brasileiras

Análise: Um aceno tímido do governo às siderúrgicas brasileiras

As siderúrgicas instaladas no país seguem negociando com o governo a elevação das alíquotas de importação de aço a níveis similares aos adotados pelas grandes economias globais, num esforço de proteger seus mercados da abundante oferta de produtos siderúrgicos chineses. A pretendida tarifa de 25% ainda não veio, mas Brasília deu sinais concretos nesta semana de que está atenta às dificuldades da indústria.

Na quinta-feira, o Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex-Camex) aprovou a recomposição das tarifas de importação de cinco produtos de aço que haviam sido reduzidas em 2022. Com a medida, barras e tubos de aço importados voltam a entrar no país pagando imposto de 12% a 16%, alinhado à Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul, atendendo parcialmente ao pleito do setor.

Na prática, a decisão do Gecex traz pouco alívio ao setor siderúrgico e incide, considerando-se volumes de 2023, sobre 227 mil toneladas de 5,7 milhões de toneladas importadas. “[A medida] é absolutamente insuficiente. A expectativa é que se consiga colocar taxas que permitam criar isonomia e equilíbrio, porque é desleal a concorrência que estamos enfrentado. A preocupação é com o desenvolvimento industrial do Brasil”, disse ontem o presidente da Usiminas, Marcelo Chara.

A Usiminas investiu R$ 2,7 bilhões na reforma do alto-forno 3, o maior da siderúrgica, cujas operações foram retomadas há poucos dias. A primeira consequência desse movimento foi o desligamento do alto-forno 1, também em Ipatinga (MG), que era menos eficiente. Conforme Chara, a decisão também levou em conta o crescimento exponencial das importações de aço, em condições desleais de competição. No ano passado, as importações brasileiras de aço chinês saltaram cerca de 50% e podem subir outros 20% em 2024, conforme estimativa do Instituto Aço Brasil (IABr).

Na cerimônia de religamento do alto-forno 3, a Usiminas indicou que poderá tomar novas medidas drásticas para fazer frente ao avanço dos importados, e suspender as operações também no alto-forno 2. Na teleconferência para comentar os resultados financeiros de 2023, realizada ontem, Chara não voltou a abordar essa possibilidade.

O que a indústria classifica como invasão do aço chinês deixou marcas negativas não apenas na produção doméstica de aço, mas em emprego e investimentos. Entre novembro e dezembro de 2023, além da Usiminas, ao menos outras três siderúrgicas adotaram medidas duras para preservar seus negócios.

A Aperam South America, maior produtora de aço inoxidável da América Latina, suspendeu novos projetos de investimento no país, que ultrapassariam a casa de R$ 500 milhões. A Gerdau reduziu a produção em usinas e demitiu cerca de 700 trabalhadores. A ArcelorMittal adotou paradas técnicas e concedeu férias coletivas a cerca de 400 funcionários.

Embora insuficiente, o restabelecimento das alíquotas de importação para barras e tubos indica que o governo não fechou completamente as portas para a reivindicação da indústria do aço. Contudo, a forte oposição de setores que consomem aço, em particular a indústria de máquinas e equipamentos, à elevação da tarifa também está no radar das autoridades e, nesta primeira rodada de revisão de alíquotas em 2024, foi justamente esse lado que saiu mais satisfeito (ou menos insatisfeito).

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 14/02/2024