Aço brasileiro está bem posicionado para atender à exigência ‘verde’, mas novos investimentos são esperados

Aço brasileiro está bem posicionado para atender à exigência ‘verde’, mas novos investimentos são esperados

O aço brasileiro está melhor posicionado do que boa parte de seus concorrentes, em particular os produtos siderúrgicos feitos por China e Índia, diante das novas exigências “verdes” do mundo.

Um dos principais pontos de atenção neste terreno, o CBAM (do inglês Carbon Border Adjustment Mechanism) europeu — que não é limitado ao aço —, poderá representar, em teoria, mais oportunidades para a indústria instalada no país. Mas ainda há desafios a serem superados e novos investimentos para tornar a siderurgia local mais sustentável são esperados, na avaliação da GEP Costdrivers, plataforma de inteligência que acompanha cerca de 100 mil indicadores de diferentes setores.

Em relatório recente, a economista-chefe da plataforma, Tânia Gofredo, e o analista de metais Rodrigo Scolaro destacaram que um possível acordo entre Estados Unidos e União Europeia em torno do comércio de metais com baixo carbono, com taxas preferenciais, pode levar os americanos a adotarem medidas com impacto relevante no mercado internacional de ferro e aço, inclusive com a imposição de alguma taxação das emissões de carbono sobre produtos importados similar à dos europeus.

A expectativa é que a tarifa sobre as importações com elevada pegada de carbono comecem a ser cobradas apenas em 2026. Mas alguns produtores de aço, como China e Índia, têm protestado e os indianos já buscam ações na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a iniciativa, lembram os especialistas. “Esse protesto pode impactar no tempo de adoção da matéria no mercado, mas não deve anular o processo”, ponderaram.

Diante disso, disse Scolaro ao Valor, a leitura é que, embora o Brasil esteja à frente nesse processo, novos investimentos devem ser anunciados nos próximos anos para que o aço produzido no país seja ainda mais verde.

Uma das alternativas é usar o hidrogênio verde como fonte de energia na corrida pela menor pegada de carbono. “O hidrogênio verde pode ser o combustível chave para aço o verde. A biomassa também é uma alternativa viável, mas ainda não está claro como isso se dará”, afirmou.

Conforme o especialista, a matriz energética mais limpa do Brasil traz uma vantagem de partida em relação a outros países produtores. O país, inclusive, é sede da primeira produtora de aço do mundo com certificação de carbono neutro, a Aço Verde Brasil (AVB), que cultiva o eucalipto (biomassa) que será usado como fonte de energia em seu processo produtivo. Mas praticamente todas as grandes instaladas no país, como Gerdau, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e ArcelorMittal — que puxa o movimento na Europa —, já estão investindo em mais descarbonização e avaliando o uso de combustíveis alternativos em busca do aço com menor pegada de carbono. Novos projetos devem ser anunciados à frente.

Além disso, segue o especialista, o minério de ferro usado na obtenção do aço verde a partir do hidrogênio também verde precisa ser de maior qualidade — até acima dos 65% de pureza —, mas a Vale tem investido nessa tendência. Isso se deve ao fato de a produtividade de aço com uso dessa tecnologia ainda ser relativamente menor, o que exige a utilização do minério de maior qualidade.

Mas já há iniciativas de uso do hidrogênio verde em outras regiões do planeta, a despeito do custo ainda elevado, e o país deve enveredar também por essa rota. “A discussão é que é possível usar esse combustível para fazer aço. Há vários investimentos na Europa, que devem entrar em operação nos próximos anos”, observou.

“O Brasil está entre os dez maiores de aço, ainda bem longe da china, mas com uma produção mais verde e potencial de torná-la ainda mais limpa”, comentou. “Na teoria, as siderúrgicas brasileiras seriam mais beneficiadas [pela adoção do CBAM]. Não é o aço mais verde do planeta, mas seria valorizada”, acrescentou.

Conforme Scolaro, há duas vertentes de análise do CBAM: a questão ambiental, mas também uma questão política, relativa à proteção comercial do mercado europeu — algo que os americanos também estão olhando. “Querendo ou não, funciona como um mecanismo de proteção da indústria europeia, ao colocá-la como limpa e as de fora, sujas, com imposição de taxa para esses produtos”, explicou.

Num primeiro momento, em sua avaliação, o aço verde tende a custar mais do que o “cinza”. Mas ao longo do tempo e com o ganho de escala, seu valor será reduzido. Ainda não há um parâmetro para os preços desses produtos, observou, mas já começa a existir algum repasse de “prêmio”, seja por marketing, seja pela necessidade de cumprimento de metas de descarbonização.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 22/04/2024